A produtora da estação de televisão estatal russa, “Canal Um”, interrompeu o noticiário para enaltecer um cartaz anti-guerra, cuja mensagem era: “Não acreditem na propaganda, eles dizem mentiras aqui. Russos contra a guerra”. Marina Ovsyannikova foi detida pouco tempo depois da transmissão em direto. Contudo, desconhece-se o paradeiro da manifestante e grupos de defesa dos direitos humanos denunciam o seu desaparecimento, mais de 12 horas após a sua detenção.
Ao Washington Post, os advogados admitem que ainda não conseguiram localizar a manifestante contra-Kremlin.
O Comité de Investigação russo, o principal órgão de investigação governamental do país, terá iniciado um “controlo pré-investigação” contra a manifestante. A agência de notícias Tass diz que Marina pode enfrentar acusações no âmbito de uma lei contra o “descrédito” das Forças Armadas, citando uma fonte policial.
O canal, controlado pelo Kremlin, já garantiu que o incidente está a ser investigado. Esta terça-feira, o porta-voz, Dmitry Peskov, rejeita a ação de Marina e indica que se trata de “hooliganismo“. O representante do Governo russo assegurou que “o canal está a lidar com isso”, sem a intervenção do Kremlin.
De acordo com a BBC, os meios de comunicação social estatais russos não noticiam este episódio. Apenas um jornal independente dá conta do protesto com uma imagem do momento, mas cobrindo as palavras do cartaz que a jornalista está a segurar.
A legislação russa criminaliza a publicação de “fake news” sobre a guerra na Ucrânia com penas até 15 anos de prisão.
GABINETE DOS DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS PREOCUPADO
O gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas avisa estar preocupado com a manifestante. A porta-voz, Ravina Shamdasani disse, em conferência de imprensa em Genebra, que as autoridades russas deveriam assegurar que Marina “não seja alvo de qualquer represálias cambiais por ter exercido o seu direito à liberdade de expressão”.
ZELENSKY AGRADECE À MANIFESTANTE
Perante a coragem da manifestante russa, o Presidente ucraniano agradeceu na segunda-feira a Marina, pela “luta contra a desinformação”.
MARINA, UMA RUSSA PELA PAZ
A mulher foi identificada pelo grupo independente de monitorização de protestos OVD-Info, e também pelo diretor da organização de direitos humanos Agora, Pavel Chikov, como Marina Ovsyannikova, funcionária do Canal Um. Chikov diz ainda que Marina foi presa e levada para uma esquadra da polícia de Moscovo.
CANAL PRÓ-KREMLIN
A televisão estatal é a principal fonte de notícias para milhões de russos e segue de perto a linha do Kremlin, defendendo que a Rússia foi forçada a agir na Ucrânia para desmilitarizar e “desnazificar” o país e defender os russófonos contra o “genocídio”.
A Ucrânia e a maior parte do mundo condenam a alegada justificação e consideram-na um falso pretexto para a invasão de um país democrático.
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