Guerra Rússia-Ucrânia

O iodo protege em caso de acidente nuclear? Três perguntas e respostas

A ameaça nuclear lançou uma corrida por iodo na Europa. Para que serve e que proteção confere em caso de um acidente nuclear?

O iodo protege em caso de acidente nuclear? Três perguntas e respostas

A invasão russa à Ucrânia e as declarações do Presidente russo Vladimir Putin sobre o uso de armas nucleares desencadearam uma corrida ao iodo na Europa. As pessoas acreditam que o iodo poderá protegê-las de uma eventual exposição à radioatividade em caso de conflito nuclear. Mas será mesmo assim?

Relatos da Bulgária e da República Checa dão conta de que as farmácias já venderam a quantidade de iodo que, habitualmente, vendem num ano e em algumas farmácias o suplemento está esgotado.

“Encomendamos mais quantidades, mas temo que não durem muito tempo”, afimou Nikolay Kostov, representante das farmácias búlgaras.

Também Miroslava Stenkova, farmacêutico checho, relatou que a corrida “foi um pouco louca”. Na Polónia, o número de farmácias que vendem iodo duplicou, de acordo com a Reuters.

Portugal não fugiu à tendência: as farmácias registaram um aumento da procura de iodo, aguardando-se uma comunicação da Associação Nacional de Farmácias relativamente ao assunto, avança o Jornal de Notícias.

No entanto, segundo a Ordem dos Farmacêuticos, citada pelo mesmo jornal, o único medicamento aprovado pelo Infarmed para utilização em caso de acidentes nucleares chama-se Iodeto de Potássio GL Pharma 65 mg e não está à venda nas farmácias portuguesas.


Para que serve o iodo em caso de acidente nuclear?

Uma exposição prolongada à radioatividade pode ter vários efeitos nocivos, entre eles, o cancro da tiróide. E o iodo, que é vendido em comprimidos ou xarope, é indicado para o tratamento de doenças neste órgão.

O desastre nuclear de Chernobyl, em 1989, foi prova disso: o acidente na central nuclear causou a libertação de iodo-131 e iodo radioativo. Anos depois foi registada uma alta taxa de cancro da tiróide nas populações que viviam nas áreas contaminadas da Bielorrússia, Ucrânia e parte ocidental da Federação Russa. A toma do suplemento acabou por ser recomendada a quem vivia perto de Fukushima, em 2011.

Objetivamente, a toma de iodo estável pode ser um meio de evitar que a tiróide fixe o iodo radiativo e, assim, prevenir futuros problemas neste órgão, responsável pela produção de hormonas essenciais para a regulação do organismo.

O iodo estável protege contra todos os perigos?

“O iodo protege um único órgão: a tiróide”, informou a Autoridade de Segurança Nuclear francesa (ASN) à AFP. A toma do suplemento não protege as populações de outros elementos radioativos como, por exemplo, o césio-137, nem oferece proteção a todos os outros órgãos.

Importa também referir que o tratamento com comprimidos ou xarope de iodo não é permanente e há cuidados a ter relativamente à toma: idealmente devem ser administrados uma hora antes da exposição à radioatividade ou, o mais tardar, seis a doze horas depois, avança a agência da notícias francesa.

E “não adianta tomar comprimidos de iodo preventivamente: não só é inútil, como pode causar efeitos adversos, ou alergias”, sublinhou a ASN de França.

Como devemos então agir em caso de emergência radiológica?

Portugal “não é um país nuclear no sentido em que não possui atualmente instalações ativas (…) nomeadamente centrais nucleares para produção de energia elétrica”, diz a Associação Portuguesa do Ambiente. No entanto, Estados vizinhos produzem energia com recurso a centrais nucleares, nomeadamente, Espanha.

A ameaça aumenta agora com a guerra na Ucrânia, onde se localiza a maior central nuclear da Europa – a Zaporizhzhia – que foi alvo de um ataque russo na semana passada.

Segundo o Centro de Controlo de Doenças norte-americano (CDC), em caso de emergência, a população deve abrigar-se. Se estiver na rua, deve procurar um edifício e manter-se longe das janelas e portas. Os animais de estimação também devem ser protegidos.

A CDC também recomenda que se tome banho em caso de exposição e que se ingira apenas alimentos embalados ou selados. Deve-se procurar fontes de informação locais ou nacionais para obter atualizações das autoridades de saúde.