Guerra Rússia-Ucrânia

“Putin ganha o mundo, mas perde a alma” e “está-se borrifando se morrem 100 mil crianças”

Nuno Rogeiro e José Milhazes comentam o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

“Putin ganha o mundo, mas perde a alma” e “está-se borrifando se morrem 100 mil crianças”

Os comentadores da SIC Nuno Rogeiro e José Milhazes, no Jornal da Noite desta terça-feira, fazem a análise da atual situação vivida na Ucrânia e da entrevista do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, à CNN e à Reuters.

Nuno Rogeiro, no seguimento da entrevista, começa por referir que “a Ucrânia está numa situação de legítima defesa” e que o que está a acontecer “é uma agressão […] condenável do ponto de vista do Direito Internacional geral”.

O comentador da SIC continua com uma referência ao comandante das ‎‎Forças Terrestres russas, Oleg Salyukov, que “andou a disparar” sobre praças civis e a torre de transmissão televisiva de Kiev, “alvos civis e não militares”, e sobre quem o Presidente ucraniano falou, alegando que poderá ser “imediatamente responsável nos tribunais internacionais”.

Nuno Rogeiro explica ainda que, para Zelensky, “a NATO é secundária”, pois o que pretende é “ter segurança no território interno”, não podendo corresponder às pretensões russas de desmilitarização, pois tal “quereria dizer que não teria forma de proteger o território”.

Destacado é, também, o risco em torno do líder da Ucrânia, que, na entrevista, tem guarda-costas com coletes à prova de bala à sua volta, num momento em que existem milícias focadas em encontrar Zelensky.

“É uma prova de vida e uma prova de força”, diz, acrescentando que “Zelensky já é a pessoa que venceu esta guerra.”

“Putin ganha o mundo, mas perde a alma”, sublinha.

José Milhazes, relativamente a uma possível tentativa russa de assassinar o Presidente ucraniano, refere que “uma das coisas mais fáceis a Putin é que, certamente, ele atribuiria [a morte do líder da Ucrânia] aos ‘nazis ucranianos’ que rodeiam Zelensky”.

“O que interessa a Putin é ocupar a Ucrânia, acabar com a democracia na Ucrânia, meter a Ucrânia sob o domínio total da Rússia e humilhar os ucranianos até ao fim”, aponta, acrescentando que o número 1 do Kremlin “está-se absolutamente borrifando para se morrem 100 mil crianças ou 100 mil mulheres”.

Nuno Rogeiro, aponta que, ao contrário da União Soviética, da Rússia saem “muitos oligarcas, homens de negócios, artistas e estudantes” para o estrangeiro, e que “todos vão pagar pela mesma medida” o atual conflito.

“Esta oposição que se vê cá fora, dos mais humildes aos mais ricos, não se pode ver lá dentro. São um povo preso dentro do seu próprio Estado”, diz o comentador da SIC sobre a população russa.

“Muitas pessoas, umas protestam e são presas, outras protestam e desaparecem a meio da noite, outras aparecem mortas porque caíram de um prédio ou afogadas – há imensos acidentes de pessoas a caírem de andares”, aponta – em tom irónico, na última parte -, lembrando ainda que, “depois, há aquelas que não se revoltam porque nem sequer sabem o que se passa”.

“As leis sobre o que tu não podes dizer voltaram a ser as mesmas da União Soviética. Não podes dizer certas palavras, não podes procurar no teu computador, não podes afirmar a equivalência entre a União Soviética e Hitler”, sob pena de multa, o que leva Nuno Rogeiro a lembrar-se “do universo de [a obra] ‘1984’, de George Orwell, em pior”.

José Milhazes aponta que “o aparelho repressivo é cada vez mais forte” na Rússia.

“Há poucos minutos atrás, deixou de se ouvir a Rádio Echo de Moscovo, a única voz mais ou menos independente que utilizava a palavra ‘guerra'”, e ainda um canal de televisão por cabo, pois “acharam que eles estavam a fazer propaganda antirussa, que são traidores”.

Tendo em conta que Vladimir Putin “decapitou a oposição russa”, o comentador aponta que, “para que nasça alguma coisa [na oposição], é preciso que as coisas comecem a mexer”.

“E mexem, até pelo número de detidos nas ações de protesto [na Rússia]: 6 mil. Isto é muito pouco, mas queria lembrar que quando foi da invasão da Checoslováquia em 1968, à Praça Vermelha saíram seis pessoas, que deram origem ao movimento dissidente soviético. Aqui, pelo menos já são 6 mil”, que arriscam “quatro a seis anos de cadeia garantidos”.

De acordo com José Milhazes, “há resistência e há russos que dizem ‘hoje, tenho vergonha de dizer que sou russo’ e ‘o que estão a fazer não tem sentido absolutamente nenhum'”.

“Orgulho-me que a esmagadora maioria dos meus amigos esteja do lado dos ucranianos e não tenham medo”, termina.