O regime de Vladimir Putin apertou ainda mais a censura. Foi bloqueado o acesso às páginas de internet de órgãos de informação internacionais e a redes sociais como o Facebook. E foi criada uma lei que prevê 15 anos de cadeia para quem publique informações que o regime considere falsas.
Anna Politkovskaya – jornalista russa de investigação – foi assassinada em 2006. Os culpados nunca foram encontrados. Não foi a única a ser morta alegadamente por operacionais do regime de Putin.
A Novaya Gazeta, o maior jornal independente da Rússia, onde Politkovskaya trabalhava, parou de escrever sobre a guerra e apagou tudo o que até agora tinha escrito.
A lei publicada esta sexta-feira permite todas as interpretações. Serão punidos com penas que poderão chegar aos 15 anos de cadeia, todos os que publiquem informação falsa sobre a invasão da Ucrânia.
Basta que os jornalistas escrevam “guerra” ou “invasão”, para classificarem o que de facto está a acontecer, para – imediatamente – serem condenados. “Guerra” ou “invasão” devem ser substituídas por “operação militar especial”.
A BBC suspendeu todas as operações na Rússia.
São cada vez menos as portas de entrada na informação alternativa à visão oficial do regime.
Na resposta, a rede social Facebook bloqueou o acesso às contas dos mais próximos do Presidente russo.
A rádio Eco de Moscovo e um canal de televisão online pararam as emissões depois de terem sido classificados pelo regime de extremistas e acusados de emitirem informação falsa.
Pela rádio Eco passaram as vozes de Alexei Navalny, o líder da oposição, detido há um ano, e Mikhail Gorbatchov, o ex-Presidente que abriu o regime ao Ocidente.
Ao longo dos últimos 22 anos, Putin foi dando fortes sinais de querer controlar a informação livre. Nada disto é verdadeiramente novo.
A Novaya Gazeta, jornal de Anna Politkovskaya, já viu morrer seis dos seus jornalistas. O editor, Dmitri Muratov, partilhou o Nobel da Paz de 2021 com a jornalista Maria Ressa.
Em 2003, três anos antes de ser assassinada à porta do apartamento onde vivia, Anna Politkovskaya reagiu à tentativa frustrada de assassinio de um camarada de profissão.
“Na Rússia tentativas para matar jornalistas não são uma raridade. Nunca ninguém é apanhado”.
Nessa altura, Anna Politkovskaya investigava um massacre na Chechénia, alegadamente concretizado por operacionais dos serviços secretos russos.
“Valerá a pena morrer pelo jornalismo?”, perguntava a jornalista em 2003.
A sete de outubro de 2006 Anna Politkovskaya recebeu a pior resposta possível. Dois dias antes de morrer dissera, numa entrevista a uma rádio, estar a trabalhar num artigo sobre tortura na Chechénia, tortura alegadamente executada por operacionais do regime de Putin.