Guerra Rússia-Ucrânia

Ucrânia: Putin pode interromper abastecimento do gás à Europa

Opinião é do especialista em energia António Costa Silva.

Ucrânia: Putin pode interromper abastecimento do gás à Europa

O especialista em energia António Costa Silva está convicto de que a Rússia poderá interromper o abastecimento de gás natural à Europa, criticando o facto de não terem sido diversificados os abastecimentos nem reforçadas as interligações de energia.

Em declarações à agência Lusa, questionado sobre se a Rússia poderá interromper o abastecimento de gás natural ou ainda é viável um cenário de redução do abastecimento, o ex-presidente do Conselho de Administração da petrolífera Partex diz que “não é uma questão de crença, é a força dos factos”.

“A Rússia já usou a energia num passado recente como arma geopolítica e interrompeu o abastecimento à Europa em 2006, 2007 e 2009. Em 2009, no pico do inverno, deixou muitos países da Europa Oriental e Central sem energia”, afirma.

António Costa Silva alerta que “isto nunca aconteceu durante a Guerra Fria nem quando as tensões estavam ao rubro, mas com o presidente Vladimir Putin, em pleno século XXI, aconteceu e portanto pode voltar a acontecer”.

O autor da “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020/2030″ e que preside atualmente à Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) sublinha que a Alemanha recebe, através do gasoduto Nord Stream 1, cerca de dois terços de todas as suas importações de energia, pelo que acredita que “uma Rússia acossada e atingida por sanções mais severas pode fazer ajoelhar a Alemanha em poucos dias”.

Berlim responde a Moscovo

A Alemanha anunciou na terça-feira a suspensão do processo de certificação do gasoduto Nord Stream 2, para distribuição de gás natural russo à Alemanha, como resposta às ações de Moscovo na Ucrânia. 

“Sem essa certificação, o Nord Stream 2 não pode ser colocado em funcionamento”, diz o chanceler alemão, Olaf Scholz, durante numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro irlandês, Micheal Martin, acrescentando que o assunto vai ser “reexaminado” pelo Governo alemão.

Alemanha “não tem pensamento geopolítico”

Costa Silva considera que “infelizmente a Alemanha – como a União Europeia – não tem um pensamento geopolítico, ao contrário da Rússia, e ofereceram ao presidente russo uma arma diabólica”.

Para o gestor, quando a aposta deveria ter sido em fazer “funcionar na Europa o Mercado Único da Energia, diversificar os abastecimentos, desenvolver toda a fachada Atlântica com Portugal e a Península Ibérica como recetores de gás e produtores de energias renováveis e com as ligações transfronteiriças, fortalecendo toda a rede europeia e diminuindo substancialmente a dependência energética da Rússia”, justifica.

“Isso não foi feito por miopia geopolítica e agora é difícil a Alemanha, e com ela a Europa Oriental e Central, escapar da armadilha”, vinca.