O Teatro Bolshoi, em Moscovo, anunciou esta segunda-feira a suspensão de dois espetáculos, programados para maio, por serem idealizados por dois diretores que deixaram a Rússia e que manifestaram publicamente a sua oposição à ofensiva russa na Ucrânia.
O Teatro Bolshoi anunciou, numa mensagem publicada na rede Telegram, que o ballet Nureyev de Kirill Serebrennikov e a ópera Don Pasquale de Timofei Kulyabin seriam substituídos por outros espetáculos nas seis apresentações programadas para os feriados de maio. As razões para esta mudança não foram divulgadas oficialmente.
O diretor e cineasta Kirill Serebrennikov vive atualmente em Berlim, depois de ter deixado a Rússia em abril por “uma questão de consciência”, como citou na altura a agência francesa de notícias AFP, e após ter criticado duramente a invasão russa da Ucrânia.
Conhecido pelas suas criações ousadas e pelo seu apoio às pessoas LGBTQ+, o artista foi condenado, em 2020, a três anos de prisão com pena suspensa por peculato, tendo sido proibido de sair da Rússia.
O seu espetáculo de ballet sobre Rudolf Nureyev – um bailarino considerado prodigioso que fugiu da antiga União Soviética para a Europa -, tem estado em cena no Bolshoi desde o final de 2017, apesar das referências à orientação sexual do protagonista num contexto de crescente conservadorismo por parte das autoridades russas.
Mas foi substituído por Spartacus, uma obra com uma forte componente bélica e que foi apresentada pelo teatro no início de abril em apoio à operação militar russa na Ucrânia. Toda a receita do espetáculo foi doada às famílias dos soldados russos mortos na ofensiva lançada no final de fevereiro.
Timofei Kulyabin, um jovem realizador que trabalha especialmente em Novosibirsk, também trocou a Rússia pela Europa e publicou várias mensagens nas redes sociais a criticar a guerra. Na sequência da ofensiva russa na Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro, foram vários os principais bailarinos do Bolshoi que abandonaram o teatro, como foi o caso da prima bailarina Olga Smirnova.
Tugan Sokhiev, diretor musical do Bolshoi, também se demitiu do cargo e renunciou à responsabilidade do teatro Capitole, em Toulouse (França), alegando estar sob pressão para se posicionar face aos acontecimentos. O Museu de Arte Metropolitan, em Nova Iorque, suspendeu, entretanto, as coproduções e a esperada digressão internacional da companhia de ballet Bolshoi.
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