Se ao menos a guerra permitisse a existência de fins de semana, como os conhecemos, talvez pudessem haver breves momentos de ilusão nesta realidade marcada pela tristeza profunda. Os hospitais parecem agora lugares seguros, para quem não tem para onde ir depois de sarado o corpo. É a dor a garantir o tecto.
Aqui, a opacidade do olhar é transversal a todos; é aquele vazio que vem já depois da revolta e do medo. Aqui, não há fins de semana. Perde-se a noção do calendário, como se perde tudo. Perder parece ser o verbo da guerra, de tal forma que já nem medo importa ter. E o medo era o que ainda podia salvar estas pessoas que já nem reagem quando soam as sirenes ou quando, nas cidades, caem os mísseis russos. É quase tudo indiferente para a maior parte deste povo que vive sem descanso.
Aqui não há fins de semana, mas vamos à missa, enquanto ainda há, porque mesmo assim, a fé parece sobrar nalguns olhos vazios, sem medo, mas talvez com uma esperança adormecida pelo abandono do mundo que vê tudo ao longe, mas não cheira o queimado da casa, não ouve o som das rajadas dos sistemas anti-míssil, a fazer lembrar um comboio que parece nunca mais passar, nem sente a ansiedade de se ser um alvo a todo o instante.
O mundo parece já não se ver a ele mesmo, num problema que é dele mesmo, demitindo-se quando deveria erguer-se. Isto que aqui acontece agora está a acontecer à porta da nossa casa, mesmo que achemos que estamos longe. Por isso, aprendamos com estas pessoas que, mesmo na solidão mais profunda e descarnados de liberdade, resistem como nunca o mundo, ao longe, tinha visto.