Guerra Rússia-Ucrânia

“Vamos ter grandes dificuldades, vamos passar por coisas que só as gerações antigas passaram”

José Milhazes comenta a guerra na Ucrânia e os impactos na economia ocidental.

“Vamos ter grandes dificuldades, vamos passar por coisas que só as gerações antigas passaram”

O jornalista começa por referir que as conversações de paz “não vão evoluir” e que “as coisas vão continuar da forma que estão, ou pior, no terreno, em termos militares”.

“Lança-se mísseis, bombardeia-se cidades e torna-se cada vez mais evidente que as únicas conversações que Putin quer é a capitulação de toda a Ucrânia”, acrescenta, ou seja, “fazer da Ucrânia um país fantoche”.

Para José Milhazes, “Putin já não tem capacidade de recuo”, sendo que “é muito mais difícil recuar do que se só tivesse ocupado o Donbass”.

“Ele esta a destruir um país inteiro e, se recuar, vai ter de responder sobre porque se matou tanta gente e se partiu tanta mobília”.

Fazendo ainda referência ao distanciamento nas relações entre o Kremlin e o Estados Unidos e o Japão, afirma que “há um isolamento cada vez maior” da Rússia.

“Começa a pesar cada vez mais as posições de países que podem influir em Putin, obrigá-lo a arranjar uma solução que permita manter uma Ucrânia independente e que ele acabe com esta mortandade. É a China que começa a ter que querer, porque as consequências para a china vão ser piores. A guerra não interessa à China”, explica.

Explica ainda que a Índia pode transformar-se num dos buracos das sanções à Rússia” por fornecimento de inúmeros produtos, e que, se este isolamento da Rússia for levado às últimas consequências, em termos económicos, não se vê a forma como Putin pode recuar”.

José Milhazes aponta que os ucranianos agora perguntam sobre “quem é que vai reconstruir a Ucrânia” e “quem é que vai pagar”, acrescentando que “Putin vai dizer que é a NATO e o Ocidente que tem de participar” na reconstrução.

A Rússia, na opinião do comentador, “em termos de armamento, ainda tem para dar”, e “tem capacidade militar de acabar com a Ucrânia”.

“O que está a fazer em Mariupol, pode fazer em Kiev e noutras cidades. Resta saber o que ele [Vladimir Putin] vai poder fazer depois e quem vai pagar a fatura da destruição que foi feita”.

Diz ainda que “há sanções que já estão a bater forte nos próprios russos”.

“Na União Soviética, não havia tampões, nem pensos higiénicos, as mulheres não sabiam o que era isso, e isso apareceu na Rússia. Hoje, na Rússia, já há falta disso. Já há falta de medicamentos. A Rússia tem uma indústria médica muito fraca, por exemplo, na questão da insulina, para pessoas que têm diabetes”, explica.

Alertando também para os efeitos do desemprego, aponta que “isto vai criar problemas internos”.

“Resta saber se a máquina repressiva de Putin vai continuar a controlar esta situação e se, dentro do Kremlin, não começarão a aparecer pessoas que pensem que Putin está a levar a Rússia à cova”.

José Milhazes indica que já se fala “que a União Europeia pode suspender totalmente a compra de petróleo à Rússia” e que “isto já é uma sanção muito pesada” – “e se formos para o gás, então…”.

Diz ainda que a classe política em Portugal deveria deixar a seguinte mensagem:

“Nós temos que mudar os nossos modos de vida, porque vamos sofrer. Nós vamos ter problemas com combustíveis, vamos ter racionamento de combustíveis; ate racionamento de bens alimentares”.

De acordo com o jornalista, “os europeus tiveram 70 e poucos anos de paz, têm um nível de vida muito alto, e uma das apostas de Putin é fazer com que esta crise na Europa, com que esta queda do nível de vida, que poderá ser muito forte, venha a criar insatisfação social dentro da União Europeia e jogue a favor da Rússia”.

“É para isso que os nossos dirigentes nos devem preparar”, sendo que “vamos ter grandes dificuldades, vamos passar por coisas que só as gerações antigas [passaram]. Agora, a maioria dos portugueses não tem ideia do que isso é, ir para uma fila para receber meio quilo de pão”.

“Eu peço desculpa por não vir otimista”, termina.