Fugir da Ucrânia durante o conflito pode não ser uma jornada simples, principalmente para pessoas com deficiência. Denys e Olga, um casal que vivia em Kiev, são cegos e demoraram vários dias até conseguir sair da capital com a sua filha Inga, os cinco gatos e os dois cães.
Denys é completamente cego e Olga, que está grávida de seis meses, tem 1% de visão. A decisão de sair de Kiev não foi simples e Denys admite que gostaria de ter ficado na capital ucraniana. Um ataque mesmo por cima das suas casas terá sido um dos principais fatores tidos em conta.
A logística da viagem apareceu logo como um desafio: a viagem até à estação de comboios, a confusão da multidão que também tentava fugir e o facto de viajarem com a filha e os animais fazia com que não tivessem “mãos suficientes” para tudo.
“Fisicamente, não tínhamos mãos suficientes. Cinco gatos e dois cães dá sete caixas”, explica Denys à Sky News – parceira da SIC Notícias. “Existe uma criança que temos de controlar e não conseguindo fazê-lo visualmente, basicamente temos de a manter pela mão, especialmente na estação de comboios e nessas circunstâncias, onde há muita gente e diferentes tipos de pessoas, nunca sabemos o que fazer.”
Além de tudo isso, o casal precisava ainda de levar nas mãos as bengalas que auxílio. Posto tudo isto, concluíram que a viagem de comboio seria impossível. A única opção viável era encontrar alguém que os levasse de carro até à Polónia.
“Durante dois dias ficamos sentados nas nossas malas expectantes de que iríamos sair em 20 minutos. Tivemos os nossos cães nas caixas durante um bocado”, conta. “No meio estávamos constantemente a ouvir tiros e os aviões, foi muito stressante”, recorda Denys.
Denys, Olga e Inga receberam outra oferta de transporte até à fronteira com a Polónia. Aceitaram e seguiram viagem. Mas o condutor apenas pode deixá-los a um quilómetro da fronteira – um percurso que tiveram de fazer a pé.
“Basicamente o problema era atravessar a fronteira a pé, que era a cerca de um quilómetro, e ninguém podia acompanhar-nos porque não era permitido. Então caminhámos e depois tivemos ajuda dos guardas da fronteira do lado da Ucrânia.”
Olga partilha a preocupação que sentiu durante todo o processo. “Não sei se estava mais preocupada naquele momento com a minha filha que tem cinco anos ou com o meu filho que ainda está na minha barriga.”
“Estava constantemente a pensar na Inga. Acho que estava mais focada no momento porque era suficientemente stressante e eu apenas sabia que tinha de sobreviver a esta jornada. Tinha de pensar nos meus filhos primeiros, em ambos”, lembra.
Na fronteira, a família foi transportada de carro até Varsóvia, onde lhes foi atribuído um apartamento sem qualquer custo. Apesar de não ser fácil a adaptação a uma nova cidade, Denys e Olga têm recebido um forte apoio por parte dos vizinhos e da comunidade.
CONFLITO RÚSSIA-UCRÂNIA
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