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Eleições legislativas na Hungria contam com oposição unida para destronar Viktor Orbán

Sondagem revela que 53% dos húngaros pretende uma mudança de Governo.

Eleições legislativas na Hungria contam com oposição unida para destronar Viktor Orbán

No próximo domingo, 8,3 milhões de eleitores húngaros são convocados para escolher os seus 199 representantes no parlamento, numas eleições que constituem o maior desafio para o primeiro-ministro, Viktor Orbán, pela primeira vez confrontado com uma oposição unida.

A festa nacional da Hungria, celebrada a 15 de março, foi a ocasião para o União Cívica Húngara (Fidesz) de Orbán e a oposição medirem forças a três semanas das legislativas de 3 de abril, embora o partido nacional-conservador do primeiro-ministro permaneça em vantagem face ao grande e heterogéneo bloco que o tenta afastar do poder.

Nas legislativas de 2018, o Fidesz obteve 2,8 milhões de votos contra 2,7 milhões do conjunto dos restantes partidos, com uma taxa de participação de 70%.

Um recente estudo do Nezopont, um instituto pró-governamental, indicou que o Fidesz pode eleger 110 dos 199 deputados (possui atualmente 133), referindo que apenas 200.000 eleitores permaneciam indecisos.

Uma sondagem na reta final da campanha também dava uma vantagem de seis pontos à formação no poder (50% contra 44% da oposição unida), numa votação que volta a ser acompanhada por uma equipa de mais de 100 observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

No poder há 12 anos consecutivos – garantiu um primeiro mandato entre 1998 e 2002 – Orbán conseguiu mobilizar a 15 de março dezenas de milhares de pessoas na capital, Budapeste, com autocarros provenientes de todas as regiões do país, numa altura em que a guerra na Ucrânia se tornava o tema central da campanha.

Oposição a favor do envio de armamento a Kiev

Viktor Orbán tem apresentado as eleições como uma escolha entre “a direita da paz e a esquerda da guerra”, depois do seu adversário, o conservador independente Péter Márki-Zay – conhecido por PMZ, – candidato da oposição unida, ter declarado que a Hungria deveria apoiar uma eventual intervenção da NATO na Ucrânia.

Márki-Zay também se pronunciou a favor do envio de armas a Kiev, com o Fidesz a insistir que “a esquerda está do lado da guerra”.

“Nenhum húngaro deve interpor-se entre a bigorna ucraniana e o martelo russo e não enviaremos soldados ou armas para os campos de batalha”, declarou Órbán no decurso da campanha.

“Contra um grande perigo, o melhor remédio é uma grande vitória. Vamos ganhar esta eleição e então haverá paz e segurança”, insistiu ao transmitir a sua mensagem central, apesar de ter quase sempre evitado nomear a Rússia ou o seu Presidente, Vladimir Putin.

A Hungria afirmou que não permitirá a passagem pelo seu território de armas para a Ucrânia por “não pretender envolver-se na guerra” e reafirmou-o sempre que o Presidente ucraniano questionou o motivo que levava Budapeste a impedir esse transporte.

O bloco dos seis partidos da oposição, sob a batuta de PMZ, vencedor das primárias da oposição para dirigir a coligação Unidos pela Hungria (EM), agrupando formações da direita radical à esquerda, também tem registado importantes mobilizações, apesar de inferiores ao Fidesz e num ambiente de contido otimismo devido às projeções eleitorais.

“Temos a opção histórica de escolher a Europa em vez do Leste, a liberdade em vez do arbítrio”, disse Márki-Zay aos seus apoiantes ao intervir a 15 de março num comício.

Mas a sua coligação também introduziu temas da política interna, como a inflação, introdução do euro, situação dos trabalhadores dos serviços de saúde, tendo manifestado apoio aos professores que iniciaram uma greve a 16 de março pela melhoria das condições de trabalho.

PMZ também optou por atacar Orbán no seu próprio campo – a direita, – tentando desmontar o discurso patriótico do primeiro-ministro e do seu partido. “Estou convencido que não é de todo um patriota”, disse.

“Também não é um cristão. Não têm princípios, valores nacionalistas, religião. São oportunistas. Orbán é o supremo pragmatista. Tudo fará para se manter no poder e enriquecer”, declarou.

Cerca de 53% dos húngaros pretende uma mudança de Governo

O primeiro-ministro continua a garantir vantagens decisivas: o seu Governo domina os media e possui importantes recursos financeiros, com o investimento em diversos meios de comunicação – três vezes superior à dos partidos da oposição -, que têm funcionado como uma importante ferramenta para a exportação do “modelo húngaro” de soberania nacional, segundo a emissora britânica BBC.

Orbán, que sempre manteve boas relações com os “ricos e poderosos”, como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, ou Vladimir Putin, é apontado como defensor dos “valores tradicionais” face às “elites liberais”, privilegiando uma “forma diferente de fazer política”, assente na importância da família, na rejeição das uniões homossexuais ou numa abordagem particular face ao processo de globalização.

Péter Márki-Zay, apoiando-se numa sondagem que indica que 53% dos húngaros pretende uma mudança de Governo, tem-se dirigido em particular a um terço dos 8,3 milhões de eleitores inscritos que não se identificam com o poder ou com a oposição. No entanto, a hora do triunfo poderá ainda não ter chegado para a oposição húngara.