Europa

Análise

"Momento de caos" em França: "Normalmente os extremos crescem em situações de desordem"

Henrique Burnay, especialista em Assuntos Europeus, explica o contexto e os cenário possíveis da crise política que se vive em França devido a demissão do primeiro-ministro Michel Barnier, depois de ser aprovada uma moção de censura ao Governo.

Loading...

O primeiro-ministro francês apresentou formalmente a demissão ao Presidente Emmanuel Macron, esta quinta-feira, no Palácio do Eliseu. Fontes da presidência francesa avançam que o chefe de Estado quer escolher rapidamente um novo primeiro-ministro, de preferência antes do fim de semana. Macron não pode convocar novas eleições legislativas, uma vez que as últimas aconteceram há cinco meses. O Presidente francês fala esta noite ao país. Henrique Burnay considera que Macron não vai assumir a responsabilidade pela crise política.

"Parece-me que vai culpabilizar os partidos à extrema e tem aqui espaço para fazer isso, uma vez que isto é uma moção de censura apresentada pela extrema-esquerda e esquerda, que foi aprovada porque teve os votos também da extrema-direita.

Aqui parece-me que o jogo político que Macron vai tentar fazer e começa-se a ver alguma movimentação é voltar àquilo que ensaiou a seguir às legislativas, isto é, voltar a tentar uma maioria ao centro, uma maioria que vá desde os republicanos à direita tradicional (…) Esse é um dos caminhos que me parece possível", refere Henrique Burnay.

O especialista em Assuntos Europeus destaca a importância das Presidenciais e a difícil situação financeira em França.

“Estamos a assistir a um jogo que tem tudo que ver com as Presidenciais seguintes e com as noção dos interesses dos diferentes grupos políticos e no meio disto, estamos a ver em pano de fundo a situação financeira da economia francesa e das finanças públicas francesas complicadas, mas não me parece que Macron vai dizer que a culpa é sua”.

Sobre a decisão de Macron de ter convocado eleições legislativas logo a seguir às europeias, Henrique Burnay explica que a expectativa de Macron era ter conseguido que não houvesse uma coligação de extrema-esquerda e fazer uma frente ao centro.

“Não conseguiu, talvez consiga agora. Agora isto é tudo uma morte adiada porque não há aqui coerência nenhuma estamos a falar de um governo a seguir que para se manter vai ter que ter apoio que venha dos Conservadores até meio da tal nova Frente Popular até aos socialistas e aos ecologistas, isto só é possível manter à tona, mas não é possível governar um país que está numa situação finanças públicas difíceis”.

Na opinião de Henrique Burnay, “quer a extrema-esquerda, quer a extrema-direita, estão a apreciar um momento de caos que é normalmente aquilo que convém aos extremos”.

“Normalmente os extremos crescem em situações de desordem e é um bocadinho isto que parece mais ou menos inevitável que vá acontecer ou alguma desordem isto ou algum caos governativo ou uma espécie de pântano em que há um governo, mas que não consegue governar e, portanto, quer uma coisa quer outra favorecem estes partidos”.

"O prémio verdadeiro na política francesa são as eleições presidenciais e, portanto, por enquanto, os partidos ainda olham para as legislativas como um meio para atingir um fim importante, mas o prémio final é a Presidência", realça o especialista em Assuntos Europeus.