Um mês depois do início da invasão da Ucrânia, a SIC falou em exclusivo com o secretário-geral das Nações Unidas. António Guterres lamenta que o mundo assista à maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial e alerta para a necessidade de proteger as mulheres e as crianças das redes de tráfico humano. Além disso, avisa, este conflito vai ter “consequências dramáticas a nível de todo o mundo”.
Em entrevista exclusiva à SIC, António Guterres reitera que a invasão “feita pela Federação russa de um estado soberano como é a Ucrânia” representa “uma violação inaceitável da Carta da Nações Unidas”.
Questionado sobre se ainda há espaço para a paz, o secretário-geral das Nações Unidas não hesita na resposta: “Tem que haver, temos visto que a guerra se arrasta e que cada vez há mais mortos e destruição, por isso mais cedo ou mais isto terá que acabar”.
“Nesse caso é melhor que acabe mais cedo do que mais tarde e que o mais depressa possível haja um cessar-fogo e uma negociação política séria”, afirma António Guterres.
Mas até que a paz se concretize, este conflito está já a ter “um efeito terrível para o ucranianos”, mas também “consequências dramáticas a nível de todo o mundo”.
“Os preços dos alimentos estão a subir em flecha, os preços da energia estão a subir em flecha, os preços dos adubos estão a subir em flecha, e há ruturas de abastecimento nos mais diversos pontos. Isto está a criar enormes problemas. Vai aumentar a fome em várias partes do mundo, vai aumentar a instabilidade em várias partes do mundo, [esta guerra] vai ter consequências muito negativas em relação à vida das pessoas, ao seu bem estar e em relação à situação dos países mais frágeis“, alerta Guterres.
E há outra questão que preocupa o secretário-geral da ONU: os refugiados, quem foge da guerra no seu país, sobretudo mulheres e crianças. “É muito preocupante (…) e, naturalmente, vêm com uma grande fragilidade e nós sabemos o que são as redes clandestinas no sentido de raptar mulheres e crianças e de as submeter depois a formas horríveis desde a exploração sexual mais hedionda a todo um conjunto de outras violações dramáticas dos seus direitos“.
“Esta situação cria muitas possibilidades a estes gangues internacionais que fazem tráfico de seres humanos e é preciso haver uma ação muito dura, muito forte contra essas organizações”, alerta Guterres na entrevista exclusiva à SIC.
De referir que esta quinta-feira assinala-se um mês desde o início da invasão russa que provocou um fluxo de refugiados inédito na Europa desde a II Guerra Mundial, contabilizando-se, até à data, mais de 3,6 milhões de pessoas que fugiram do território ucraniano.
A maioria dirigiu-se para a Polónia, mas muitos procuraram refúgio imediato em outros países limítrofes, como foi o caso da Moldova: o país mais pobre do continente que também conta com uma presença militar russa na região separatista da Transnístria (leste).
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