A Human Rights Watch acusou esta terça-feira o Bangladesh de ameaçar refugiados rohingya, de confiscar os seus documentos e de transferi-los à força para uma ilha, caso continuem a violar a proibição de estabelecer escolas nos campos de refugiados.
A denúncia surge depois de as autoridades, em dezembro passado, terem vetado as escolas que vários professores rohingyas estabeleceram nos campos de refugiados, para compensar a falta de educação formal e secundária.
“Primeiro, o governo bloqueou a educação para crianças rohingya, depois fechou as escolas que os rohingyas estabeleceram para si mesmos e agora está a ameaçar banir professores e alunos para uma ilha semelhante a uma prisão”, disse o diretor associado dos direitos da criança na Human Rights Watch (HRW), Bill Van Esveld.
A organização internacional adiantou ter conversado com 30 rohingyas, incluindo 15 professores, que admitiram receber ameaças por violarem proibições educacionais, cujas consequências incluíam a realocação forçada para Bhasan Char Island.
Nos campos de refugiados, as crianças só recebem educação básica, informal, de nível primário, razão pela qual a HRW pediu aos estrangeiros “que querem apoiar os rohingya” que denunciem o Bangladesh “por bloquear implacavelmente o direito dessas crianças de aprender”.
O Bangladesh proíbe o ensino a crianças rohingya da língua bengali, ou o currículo nacional, como parte da política do governo para evitar que os refugiados se integrem e se estabeleçam permanentemente no país. No entanto, as autoridades do Bangladesh negaram veementemente essas acusações, alertando que a HRW está “a mentir e a realizar uma campanha de propaganda”.
“As crianças rohingya vão à escola livremente. Não há impedimento. Alguns rohingya dirigem centros de treino privados dentro dos campos. Nós nem fechamos isso. É propaganda falsa e desnecessária”, disse o vice-comissário de ajuda à repatriação do Bangladesh, Shamsud Douza.
Douza disse ainda que o tamanho da amostra era “muito pobre” e convidou a HRW a visitar o campo e fazer um censo, falando “com 900.000 rohingyas em vez de apenas 30 pessoas”.
Cerca de 738.000 refugiados rohingyas fugiram para o Bangladesh depois do eclodir da violência a 25 de agosto de 2017 na vizinha Birmânia (Myanmar). As autoridades iniciaram em 2020 um plano de realocação forçada dos rohingyas para a remota ilha de Bhasan Char, para onde já foram transferidos cerca de 25 mil membros dessa minoria étnica.
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