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Pobreza extrema leva afegãos a venderem os seus órgãos vitais

Num país mergulhado na pobreza, há muitos que arriscam a vida para alimentar a família.

Pobreza extrema leva afegãos a venderem os seus órgãos vitais

Há um crescente número de pessoas indigentes do Afeganistão a tomar decisões desesperadas à medida que o seu país mergulha na pobreza. Alguns chegam a tomar a medida drástica de vender os seus órgãos vitais, revela a AP.

Na província ocidental de Herat, pessoas com extrema necessidade de dinheiro começaram a arriscar as suas vidas vendendo os seus rins.

O urologista e cirurgião de transplante de rins, Dr. Nasir Ahmad, já realizou 85 operações de transplante de rim este ano. Em declarações à AP, disse que, com consentimento mútuo do doador e do comprador do rim, uma operação completa de transplante custa entre 600.000 afghanis, (cerca de 5.300 euros) e 800.000 afghanis (cerca de 7.000 euros).

Dependendo do tipo de sangue, cada rim pode custar entre 200.000 afghanis (cerca de 1.700 euros) e 400.000 afghanis (3.500 euros).

Ahmad contou que a maioria das pessoas que vendem os seus rins são as mais vulneráveis, vêm de famílias pobres afetadas pela devastadora crise económica no Afeganistão e não estão cientes dos perigos que a perda de um rim pode trazer.

Hazrat vendeu um rim para pagar dívidas e alimentar a família

Na aldeia de Qudoosabad, no distrito de Kohsan, na província de Herat, Ghulam Hazrat, de 40 anos, vendeu um rim por 230.000 afghanis (cerca de 2.000 euros) para alimentar a sua família e pagar uma viagem, fracassada, para entrar ilegalmente no Irão à procura de um trabalho.

Um mês depois de os talibã terem voltado ao poder, Hazrat pediu emprestados 20.000 afghanis (cerca de 175 euros) e pagou a um contrabandista para o levar para o Irão, mas foi preso e deportado de volta para o Afeganistão.

Ao regressar não viu outra opção a não ser vender um rim para fazer face às despesas da sua família.

“Eu não podia sair e mendigar dinheiro, não podia mendigar, então decidi ir ao hospital e vender o meu rim, para poder pelo menos alimentar os meus filhos por algum tempo”, disse Hazrat.

O médico recomendou descanso para a recuperação, mas Hazrat não tem certeza se o conseguirá cumprir quando acabar o dinheiro que conseguiu pelo rim.

“Algumas pessoas até decidem vender os seus filhos”

A economia deste país, muito dependente da ajuda externa, já estava frágil e quando os talibã tomaram o poder em meados de agosto, a comunidade internacional congelou os ativos do Afeganistão no estrangeiro e suspendeu todo o financiamento, não querendo trabalhar com um governo talibã, dada sua reputação de brutalidade durante o governo anterior, há 20 anos.

As consequências foram devastadoras para um país destruído por quatro décadas de guerra, com falta de empregos e crescentes desafios económicos atingindo sobretudo os elementos mais vulneráveis da sociedade.

As Nações Unidas lançaram no início deste ano um apelo para a angarianção de 5 mil milhões de dólares para ajudar o Afeganistão e países vizinhos, mas a grande parte deste dinheiro é destinada a pagar a trabalhadores essenciais, enquanto os afegãos comuns enfrentam os desafios mais difíceis.

“A maioria das pessoas deixa o país porque temem pelas suas vidas, outras saem em busca de emprego, e quando essas pessoas não conseguem ir para outros países, voltam para casa e têm que pagar o dinheiro que pediram emprestado para as despesas de viagem. e para isso vendem os seus bens ou vendem seus rins. Algumas pessoas até decidem vender os seus filhos”, revela o ancião da aldeia de Qudoosabad, Mir Ahmad.