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Por que razão a Coreia do Norte testou um novo míssil? 

O Hwasong-17 terá capacidade de chegar a território norte-americano e a quase todo o mundo, mas as verdadeiras ambições norte-coreanas podem ser armá-lo com bombas nucleares.

Por que razão a Coreia do Norte testou um novo míssil? 

A Coreia do Norte testou na quinta-feira um novo míssil balístico intercontinental, o Hwasong-17, capaz de atingir qualquer parte do território norte-americano e grande parte do resto do mundo. 

Mas será este míssil uma tecnologia nova? 

Com 25 metros de comprimento, estima-se que o Hwasong-17 seja o maior sistema de mísseis intercontinentais móveis do mundo. Foi revelado pela primeira vez em outubro de 2020, numa parada militar norte-coreana, e testado de forma experimental pela primeira vez na quinta-feira. 

O último teste de um míssil balístico intercontinental pela Coreia do Norte aconteceu em novembro de 2017, com o Hwasong-15, tendo demonstrado capacidade de atingir alvos nos EUA. Agora, o teste deste novo Hwasong-17 mostrou a possibilidade de percorrer distâncias maiores.  

O Hwasong-17, que foi disparado num ângulo de forma a evitar águas territoriais vizinhas, atingiu uma altitude máxima de 6.248 quilómetros e percorreu 1.090 quilómetros durante um voo de 67 minutos, antes de cair na zona económica marítima exclusiva do Japão. 

Os detalhes do voo sugerem que este míssil pode percorrer 15 mil quilómetros quando disparado numa “trajetória normal”, podendo, por isso, atingir qualquer parte do território dos Estados Unidos. 

O sistema de mísseis Hwasong não é uma tecnologia nova, mas a sua versão 17 permitirá à Coreia do Norte evitar o Alasca, onde os EUA têm um largo número de sistemas antiaéreos, algo que o seu antecessor não conseguia. Com o Hwasong-17, a Coreia do Norte poderá, teoricamente, atingir os Estados Unidos através do Oceano Atlântico. 

Mas a distância mais longa pode não ser o principal objetivo da Coreia do Norte

Citado pela Associated Press, o analista sul-coreano Shin Jong-woo defende que o desenvolvimento de um míssil balístico intercontinental maior não terá tanto a ver com o alcance do mesmo, mas sim com a ambição norte-coreana de armar o míssil com bombas nucleares.  

Ainda assim, os especialistas acreditam que as aspirações da Coreia do Norte de construir um míssil balístico intercontinental nuclear possam demorar a concluir, já que precisará de vários anos e grandes avanços tecnológicos para o fazer.  

Um dos desafios que a Coreia do Norte enfrenta é que os mísseis sobrevivam às duras condições de reentrada atmosférica, não sendo ainda claro se essas condições foram observadas no lançamento experimental. 

O Japão já se comprometeu a tentar recuperar o que restou do míssil para analisar a tecnologia do Hwasong-17. 

Os especialistas acreditam que a Coreia do Norte voltará a testar o Hwasong-17, nomeadamente com um lançamento sobre o Japão, de forma a analisar a resistência do míssil numa trajetória que se assemelhará mais ao seu uso real

Aproxima-se um teste nuclear? 

Há sinais de que a Coreia do Norte possa estar a realizar obras numa base de testes nucleares que tinha desmantelado em 2018.  

A base, no nordeste do país, foi utilizada pela última vez para um teste nuclear em 2017. Depois de anunciar o seu desmantelamento, Kim Jong-Un convidou jornalistas estrangeiros para observar a sua destruição em maio de 2018.  

Contudo, Pyongyang não convidou especialistas independentes para verificar o que foi, de facto, destruído.  

Alguns analistas sul-coreanos afirmam que a Coreia do Norte poderá retomar os testes nucleares muito em breve, nos próximos meses, de forma a chamar a atenção da administração Biden. 

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