O comentador da SIC, Germano Almeida, refere que não existe uma redução das tropas russas na fronteira com a Ucrânia. “Esta é a maior crise no Leste da Europa desde o fim da Guerra Fria”, disse, argumentando que os russos “querem provocar destabilização e minimizar a confiança nas instituições ucranianas” por “Putin não querer uma Ucrânia europeizada”.
Começa por referir que “está instalada a guerra da informação”, que considera “um elemento crucial para uma guerra no terreno que, infelizmente, parece mais próxima”.
“Parece que a situação melhorou, com a Rússia a anunciar uma redução das tropas. Não é, de forma alguma, aquilo que os serviços de informação britânicos e norte-americanos consideram”, destaca.
Os Estados Unidos “alegam que os russos reforçaram em 7 mil as tropas nas fronteiras”, somando 150 mil combatentes “na soma das três frentes”.
Já do lado do Reino Unido, o ministro da Defesa, Ben Wallace, “disse que, nas últimas 48 horas, os russos avançaram com a construção de um hospital de campanha e aumentaram a presença de carros armados e de helicópteros”.
“Ao contrário do que Moscovo alega, a situação no terreno não melhorou, piorou”, aponta.
Germano Almeida continua, explicando que os vídeos que, alegadamente, mostrariam a retirada de tropas russas da fronteira “não têm de ser falsos”, até porque “rapidamente as posições podem voltar”.
“Esta é a maior crise no Leste da Europa desde o fim da Guerra Fria e temos de ter essa noção de risco”, acrescentando ainda que “uma guerra não se anuncia”, pelo que a não invasão da Ucrânia no dia 16 de fevereiro, como preanunciado pelos Estados Unidos, poderá ter sido adiada porque “os russos não quiseram dar razão aos norte-americanos”.
Relativamente a sanções impostas ao Estado russo, o comentador lembra que “desde a invasão de 2014 da Crimeia e a questão de Donbass, a Rússia já é alvo de grandes sanções por parte dos países da NATO, no entanto, visam essencialmente empresas ligadas ao Kremlin”.
“O Governo de Londres tem legislação preparada para passar no Parlamento e que está a causar nervosismo no Kremlin”, relativa a um possível “impedimento de levantamento de capitais dos grandes oligarcas russos, e sabemos que têm muitos dos capitais na praça financeira de Londres, […] o que provoca desconforto na elite próxima de Vladimir Putin”.
Relativamente ao facto de o Presidente norte-americano, Joe Biden, referir que “não é o povo russo o inimigo”, Germano Almeida diz que lembra a “estratégia de Barack Obama com o povo do Irão, e tem muito a ver com a posição de Washington entre os riscos que um líder pode criar e como gerir isso junta da opinião pública próxima desse líder”.
“A opinião pública russa não deseja a guerra e Joe Biden sabe disso”.
Sobre os casos de cibercrime, “há algumas semanas, houve ataques a cerca de 70 organizações governamentais ucranianas”, existindo, igualmente, “acusações de tentativa de roubo de informação e defesa”.
“Essencialmente, os russos quererão provocar destabilização e minimizar a confiança nas instituições ucranianas, muito porque, na base do problema, está o facto de Putin não querer uma Ucrânia europeizada, mais do que a questão da entrada na NATO”, acrescenta.
Assim, “no limite, o que Vladimir Putin desejaria é uma mudança de regime em Kiev para um Governo pró-russo”.