Opinião

2015 com incógnitas na confiança

O novo ano começa com um ponto de interrogação ou com reticências, neste caso com a divulgação de dados do INE sobre o comportamento e as expectativas dos agentes económicos no último mês de 2014. O indicador que mede a confiança dos consumidores estabilizou em dezembro, mas o indicador de clima económico diminuiu.

Luis Ferreira

A confiança dos consumidores travou a tendência de subida registada desde o início de 2013, mas mantém-se no "valor mais elevado desde maio de 2002", de acordo com o inquérito de conjuntura do Instituto Nacional de Estatística. Em dezembro, os consumidores estavam mais optimistas quanto à "evolução da situação financeira do agregado familiar e da poupança", mas o optimismo esmoreceu quanto à "evolução do desemprego e da situação económica do país". Curiosamente, as respostas a este inquérito ocorreram num mês de forte consumo natalício e de aumento dos levantamentos e pagamentos por multibanco.

Quando olhamos para o indicador de clima económico, há uma diminuição ligeira em novembro e dezembro, estabilizando no máximo de julho de 2008.

Segundo o INE, "o indicador de confiança diminuiu no comércio, estabilizou na indústria transformadora e na construção e obras públicas e aumentou nos Serviços."

Na indústria, houve "um contributo positivo das apreciações sobre a procura global, enquanto as apreciações sobre a evolução dos stocks de produtos acabados contribuíram negativamente e as perspetivas de produção estabilizaram." Igualmente interesante é verificar que "o indicador de confiança da construção e obras públicas também estabilizou em dezembro, observando-se uma recuperação das opiniões sobre a carteira de encomendas". Portanto, se houver ligeiras melhorias na indústria e construção teremos um modelo de crescimento mais saudável em 2015, ainda que seja preciso um ritmo de investimento e de exportações bem mais elevado para que a (ténue) retoma seja sustentada.

Os comerciantes estavam, em dezembro, menos optimistas quanto às perspetivas de atividade e ao volume de stocks, mas não se queixaram tanto das vendas, a acreditar nestes dados do INE - que sublinha ainda que "o indicador de confiança dos serviços aumentou ligeiramente em dezembro, devido à recuperação das perspetivas de evolução da procura e das opiniões sobre a evolução da carteira de encomendas". Em geral, "as opiniões sobre a evolução da situação económica do país recuperaram ligeiramente no último mês, mantendo o movimento ascendente iniciado em janeiro de 2013 e atingindo o valor mais elevado desde novembro de 2000." No entanto, quando se pergunta sobre expectativas para 2015, a resposta é de maior prudência, "interrompendo o perfil positivo observado desde o início de 2013."

Além disso, "as opiniões sobre a compra de bens duradouros no momento atual e nos próximos doze meses agravaram-se em dezembro, contrariando os respetivos movimentos ascendentes observados desde o início de 2013."

Isto significa que a estagnação económica na zona euro, os efeitos da queda do petróleo em mercados emergentes para onde as empresas portuguesas exportam ou o desemprego ainda elevado deixam várias nuvens no horizonte dos agentes económicos portugueses para este novo ano que começa. No entanto, a descida do preço do crude poderá vir a ajudar o défice da balança corrente e contribuir para a descida do défice público em 2015, provavelmente sem que haja medidas duras e impopulares de novos aumentos de impostos. Outro indicador que é preciso ter em conta é a inflação que tem estado em valores baixos ou negativos, em Portugal e na zona euro, colocando-se aqui o perigoso cenário de deflação, como já alertámos noutras crónicas.

Mesmo assim, os preços de vários produtos básicos não têm subido e as taxas de juro para os empréstimos à habitação também não, o que constitui uma almofada financeira que tem efeitos sociais - no alívio que muitos portugueses assistiram no último semestre de 2014. Se a inflação e as taxas de juro do BCE estivessem a subir, muitas mais famílias e empresas estariam em dificuldades. Em suma, num ano eleitoral onde é habitual prometer-se ilusões, é sugerida prudência perante tantas incógnitas, mas julgo que há também motivos acrescidos para acreditar na capacidade de superação dos agentes económicos portugueses ao longo de 2015.