As offshores nasceram como uma forma de atrair investimento. Esse investimento devia gerar riqueza. Essa riqueza devia servir para criar emprego. E esse emprego devia melhorar a qualidade de vida das pessoas. As offshores não cumprem nenhum destes papéis.
A discussão sobre este assunto é antiga. Ela surge de cada vez que um banco vai à falência, deixa milhares de clientes com uma mão à frente e outra atrás, e depois se descobre que os donos disto tudo têm milhões escondidos lá fora. De cada vez que um país entra em crise e depois se descobre que essa crise podia ter sido evitada se cada contribuinte pagasse os seus impostos. É nestas alturas que aparecem os manifestos, as promessas de grandes mudanças e de mais regulação. É nestas alturas que todos se indignam, até os que hipocritamente têm dinheiro em offshores ou conhecem quem tenha. Indignam-se, imagine-se, os que gerem, eles próprios, offshores. Sim, não é preciso uma palmeira e uma praia de areia fina com água cristalina para se ser um paraíso fiscal. O que não falta na Europa são paraísos fiscais.
Não é, aliás, por acaso que as offshores ganharam o título de paraísos fiscais. Um paraíso é, por definição, um local onde ninguém nos perturba, onde relaxamos e fugimos dos problemas. Ora, uma offshore é uma zona do mundo onde o dinheiro não é perturbado por impostos e onde o proprietário desse dinheiro pode relaxar e fugir legalmente ao fisco. O dinheiro que é lá depositado tem um dono, uma origem e um destino. Mas ninguém conhece. Nem a origem, nem o destino e muito menos o dono. É dinheiro foragido, mas não fora da lei. Sim, as offshores são legais. Mas nem tudo o que é legal é ética e moralmente aceitável.
Branco mais sujo não há. As offshores são verdadeiras máquinas de lavar dinheiro que é depois colocado a circular imaculado. Mas são também, em parte, as grandes responsáveis pela austeridade que se abateu no últimos anos sobre muitos países, incluindo Portugal. Cada cêntimo (ou cada milhão, que é mais o caso) que é colocado numa offshore é menos um cêntimo, ou menos um milhão, que não serviu para redistribuir melhor a riqueza, que não ajudou a baixar os impostos a outros e, sobretudo, que não impediu a falência de Estados.
Morte às offshores. Porque a morte é, neste caso, a única forma de cortar o mal pela raiz. Os que fogem aos impostos vão encontrar outra forma criativa de o fazerem? Vão. Mas pelo menos não fingimos que mudamos tudo para deixar tudo na mesma.