Confesso que não percebo o que passou pela cabeça do líder da oposição. Não faz qualquer sentido e revela irresponsabilidade. Primeiro porque falou de algo que não existe: não houve nenhum suicídio. Mas, mais importante, mesmo que tivessem existido, Passos não podia, nem devia, de maneira nenhuma, usá-los para combate político.
Se há conclusão que já todos tirámos dos graves incêndios de Pedrógão é que o Estado falhou. Voltou a falhar. Os 64 mortos são a maior prova dessa perturbadora recorrência. Passos não precisava de procurar mais mortos nos suicídios para dar força à sua argumentação. O PSD que não quis, e bem, politizar esta tragédia acaba por fazê-lo da pior forma. Se os acontecimentos em Pedrógão e as respostas no terreno estavam a deixar António Costa desconfortável e com muitas explicações para dar, agora foi Passos a causar-nos esse desconforto.
Passos sabe bem o que é dor e tragédia. E mesmo tendo sido o Provedor local a induzi-lo em erro, o líder do PSD e ex-primeiro-ministro devia ser o primeiro a exigir contenção – já para não falar em confirmação. Um líder não se afirma assim. Um líder, por mais que a sua claque lhe exija sangue, deve ter cabeça fria e perceber quando o adversário não está em bons lençóis. Passos avaliou mal as consequências do filme de Pedrógão. Descentrou a discussão do que é essencial: os falhanços no terreno e as responsabilidades das autoridades.
Não se especula sobre suicídios. Muito menos depois daquela mortandade.
E sabem?, nós, jornalistas, também fomos alertados para a existência de suicídios. Mas, por regra, não os noticiamos. Muito menos quando não existem.