Primeiro, porque a linguagem é cifrada e cheia de recursos estilísticos, feita de palavras "caras", imperceptíveis para a maioria dos cidadãos, ocas de sentido. Os políticos falam uns para os outros e para os media, e não para os tais cidadãos eleitores.
Os mesmos cidadãos que gostam de ver a encher comícios, empunhar bandeiras, gritar slogans e, claro, eleitores, quando vão por a cruzinha diante do símbolo certo;
Quem acompanha campanhas eleitorais sabe disso, há muito tempo.
Mas não é apenas por causa da linguagem;
Também é pelo desvirtuar do sentido das palavras;
"não aumentamos impostos", diz-se em campanha.
Eles sobem logo a seguir. A palavra não vale.
"a saúde é um direito de todos".
Não é. Não é mesmo. A palavra não vale.
"a justiça é igual para todos, ninguém está acima da lei".
Não é. A palavra não vale.
E podia continuar, por aqui fora, num sem número de exemplos, de governos de vários partidos.
É assim há décadas.
Se muitas palavras ditas pelos políticos não se percebem, e as frases que são ditas de forma clara… são desmentidas pela realidade, o que sobra na comunicação com o tal "cidadão comum"? (será que usam esta terminologia porque os políticos se consideram "incomuns"?)
E com a falta de palavras que toda a gente entenda, e a falha sistemática com a palavra dada (nem sempre, ou quase nunca, palavra honrada) resta muito pouco.
Fica o campo aberto para os populismos.
Para o crescimento de ideias radicais.
Para se extremarem posições sociais, criadas a partir de meias-verdades e de meias-mentiras, de factos distorcidos e de exploração de vazios.
Podia continuar no domínio da semântica;
A linguagem da justiça é imperceptível;
A linguagem médica é indecifrável;
A linguagem do fisco é encriptada.
A linguagem oficial do Estado é tão longínqua do cidadão eleitor que o Estado se transformou no carrasco dos que devia proteger.
O Estado não são os partidos, as confederações, os interesse, os lobbies, a corrupção.
O Estado somos nós.
Os cidadãos comuns.
Perceberam?