Opinião

Hollywood em "streaming"

A cerimónia dos Óscares foi estranhamente pobre no plano televisivo. Entre os vencedores surge, pela primeira vez, o nome de uma plataforma de “streaming”.

Hollywood em "streaming"

Que resta dos Óscares deste ano?

Digamos, para simplificar, que todos fazemos os nossos balanços, necessariamente marcados pelo interesse ou desinteresse que os filmes (premiados ou esquecidos) nos suscitam. Pela minha parte, confesso que fiquei triste com a ausência de “Correio de Droga” (nomeações: zero!) do sempre austero Clint Eastwood... Mas é apenas um desabafo pessoal e, afinal de contas, as decisões da Academia de Hollywood resultam dos votos de mais de oito mil profissionais...

Seja como for, não posso deixar de sublinhar o tom convencional, para não dizer indiferente, da encenação televisiva da cerimónia. Claro que a ausência de um apresentador teve consequências — como construir uma narrativa espectacular quando falta o pivot do próprio espectáculo? Em todo o caso, por exemplo, o simplismo da apresentação das canções (com excepção de Lady Gaga e Bradley Cooper, como é óbvio) esteve longe, muito longe, do fausto de momentos musicais que pertencem à memória mitológica dos Óscares.

Tais limitações não impediram que as audiências nos EUA subissem um pouco, depois dos valores dramáticos de 2018 (os mais baixos de toda a história dos Óscares).

O que está em jogo não é apenas a contabilidade dos milhões de espectadores ou das percentagens de share com que os especialistas do marketing definem a paisagem mediática e publicitária. Trata-se também de encontrar uma nova via para celebrar o cinema num tempo em que as plataformas de “streaming” passaram a ser entidades decisivas nos movimentos artísticos e financeiros de imagens e sons.

Para a história, registe-se que, graças a “Roma”, de Alfonso Cuarón, a Netflix conseguiu os seus primeiros três Óscares (nas categorias de filme estrangeiro, realização e fotografia). E também que a Disney prepara o lançamento, em Setembro, nos EUA, da sua própria plataforma de “streaming”. Não se falou disso na cerimónia, mas o futuro do cinema (e dos Óscares) passará também por aí.