O antigo primeiro-ministro não responde a nada e pede licença para passar entre os repórteres, mas faz, como sempre fez, a sua «declaração». Todos os dias contra o Ministério Público. Ajuda Sócrates a manter a narrativa que construiu há quase cinco anos. A tese da cabala, do ataque pessoal, do linchamento político, de que o Ministério Público está ao serviço de alguém.
E, por uma vez, o Ministério Público resolveu falar.
Rosário Teixeira, o magistrado que nunca fala, que nunca responde, está taco-a-taco com Sócrates.
Talvez por falta de prática neste jogo de entrevistas rápidas enquanto entra ou sai do tribunal, o Procurador não tem dito, provavelmente, as palavras (mais) certas.
Mas é bom, saudável e democrático que o contraditório também possa ser feito nos soud-bytes; o Ministério Público defende-se em público, responde na mesma moeda, estraga a narrativa única e repetida há vários anos;
«As contas fazem-se no fim», disse Rosário Teixeira.
Sócrates não gostou e comentou o comentário do Procurador.
Mas Sócrates já não está sozinho, como gosta, na arena pública.
Tem quem lhe responda e não se encolha.
Cada um no seu papel. Quem acusa e quem se defende.
Chama-se liberdade, democracia, possibilidade de contraditório.
Não devia ser feito à porta do Tribunal.
Mas a justiça decidiu não deixar a rua toda a Sócrates.
Parece futebol, mas é a sério.