Eis dois nomes universais da cultura sueca: Ingrid Bergman (1915-1982), com uma carreira sobretudo ligada à idade de ouro de Hollywood, e Ingmar Bergman (1918-2007), um dos mestres absolutos da história do cinema. Artisticamente, colaboraram uma única vez, em “Sonata de Outono”, filme agora disponível em streaming.
Lançado em 1978, foi um título terminal para os dois Bergman (sem qualquer relação familiar). Depois da sua rodagem, Ingrid surgiria apenas num telefilme, interpretando a personagem de Golda Meir, e Ingmar, em boa verdade, passou apenas a trabalhar para televisão — por exemplo, “Da Vida das Marionetas” (1980) e “Fanny e Alexandre” (1983), embora tenham chegado também às salas de cinema, são produções de raiz televisiva, para difusão no pequeno ecrã.
Como o título sugere, “Sonata de Outono” procura as melodias ocultas do tempo e das personagens. E tanto mais que Ingrid Bergman interpreta uma pianista de temperamento não muito fácil que, ao fim de sete anos de distanciamento, visita a filha que, justificadamente ou não, sempre se sentiu condicionada pelo comportamento dominador da mãe.
Liv Ullmann, actriz fulcral do universo “bergmaniano”, interpreta a filha, transformando “Sonata de Outono” num invulgar confronto de personalidades e num espantoso exercício de representação — estamos, afinal, perante uma verdadeira “música de câmara”, exemplar da visão em filigrana das relações humanas que distingue o universo de Ingmar Bergman.
Já vencedora de três Óscares, Ingrid Bergman obteve aqui a sua derradeira nomeação para uma estatueta dourada. Nos Globos de Ouro, “Sonata de Outono” foi distinguido como o melhor filme estrangeiro de 1978.