Opinião

Termodinâmica eleitoral e entrosamentos quânticos por entre os caminhos da Liberdade

Termodinâmica eleitoral e entrosamentos quânticos por entre os caminhos da Liberdade

No Advento de mais um processo eleitoral, reacende-se uma vez mais a discussão sobre variadas questões, umas mais superficiais, outras mais profundas, mas que fundamentalmente redundam no tipo de modelo funcional que se pretende para o país.

No Advento de mais um processo eleitoral, reacende-se uma vez mais a discussão sobre variadas questões, umas mais superficiais, outras mais profundas, mas que fundamentalmente redundam no tipo de modelo funcional que se pretende para o país.

Por contraponto a um mundo cada vez mais polarizado, muitas vezes visto a preto e branco, bom ou mau, certo ou errado, convido-vos a respirar fundo e a contemplar a situação com a abertura e isenção que encontramos na Natureza. Onde a liberdade é de todos e não é de ninguém. Onde a realidade não é feita à medida de cada um, mas construída por todos e para todos. Onde até as dinâmicas mais díspares e distantes podem interagir e cooperar sinergicamente numa base de complementaridade.

É legítimo e natural que cada eleitor pense e aja essencialmente por si mesmo ou pelo seu núcleo familiar e social. O voto de cada um não se extingue em si mesmo. É o voto de cada um que entra para o todo através da integração, sobre todo o domínio de votantes, do pensar e agir de cada um. É isto que irá constitugir, até certo ponto, a visão global da nação efetivamente eleitora. O alcance e representatividade de tal integração é naturalmente dependente do universo eleitoral e do nível de participação efetiva, bem como do protocolo de conversão de resultados em mandatos.

Liberdade da Entropia, ou Entropia da Liberdade

Numa sociedade com alguma maturidade democrática é natural haver uma sã diversidade de propostas para o país, oriundas dos mais diversos quadrantes políticos. Como é natural, quanto maior a diversidade de propostas, maior o leque de opções por onde escolher. Se para uns tal acarreta a angústia da incerteza, para outros traz o sabor da liberdade. Porquanto são duas faces da mesma moeda.

Esta é uma das analogias que o processo eleitoral tem com a natureza: a diversidade de configurações possíveis à disposição de um sistema está associada à sua entropia.

Embora habitualmente confundida com conceitos de incerteza, em rigor a entropia quantifica a diversidade natural no sistema. Como tal, a entropia é uma propriedade intrínseca da realidade, independentemente do conhecimento que sobre ela tenhamos. Uma propriedade que no fundo se traduz numa medida de liberdade de escolha relativamente às configurações que o sistema pode tomar.

Naturalmente, quanto maior a liberdade de escolha dentro do sistema, maior a incerteza que quem está fora a observar terá em adivinhar qual a escolha que o sistema irá tomar. Daí a quantificação da incerteza aparecer indexada à da entropia, embora a primeira emirja em quem observa e a segunda em quem é observado.

O grito de liberdade de um sistema manifesto pela maximização da sua entropia, pela diversificação das suas escolhas, é uma espada de dois gumes. Na sua configuração de máxima entropia, o sistema distribui recursos de forma indiscriminada, equitativa e universal, garantindo que toda e qualquer configuração possível é efetivamente materializada. Assim, os recursos são alocados tanto às partes produtivas do sistema que o capacitam e regeneram, como às partes dissipativas do sistema que o consomem e corroem.

Energia Livre para Fazer Acontecer

A produção de entropia subjacente ao grito de liberdade está intrinsecamente associada ao consumo irreversível de recursos, sendo portanto marca incontornável dos sistemas dissipativos. Assim, a sobrevivência não só da liberdade como do sistema propriamente dito depende dos recursos que se produz e de que dispõe, bem como da forma como são processados para sustentar e alavancar tal processo.

Tal como qualquer sistema real, o nosso mundo tem dimensão finita e recursos limitados. Como tal, existe um limite efetivo de energia para a materialização de intenções em ações concretas, bem como para proporcionar a diversidade de formas de concretizar. Perante recursos limitados, fazê-los crescer é potenciar a liberdade.

Na ciência que trabalha a energética de sistemas dinâmicos, tais recursos constituem um potencial termodinâmico denominado energia livre do sistema. Trata-se daquilo de que o sistema dispõe para criar ação, para fazer acontecer. Para produzir novas possibilidades, abrindo o leque de escolhas à disposição do sistema. A energia livre é assim o recurso primordial para a geração de escolhas, para a produção de entropia.

Produção de Entropia, Grito de Liberdade

Munidos dos recursos fundamentais da energia livre, passamos à questão da forma através da qual tais recursos são aplicados na realização das ações com vista à concretização da missão do sistema. O que nos traz à questão de quais os caminhos preferenciais de produção de entropia, de capacitação de escolhas.

Na termodinâmica ou energética dos sistemas dinâmicos, para um mesmo nível de energia, para uma mesma disponibilidade de recursos, mas múltiplos caminhos possíveis de produção de entropia, de criação de escolhas, a natureza tente a maximizar a taxa de crescimento desta última. Ou seja, a rapidez com que cresce a diversificação de escolhas será maximizada de entre todas as possibilidades admissíveis com os recursos, intrínsecos ou produzidos, à disposição do sistema. É aliás assim que a natureza produz padrões funcionais no seio de caos e turbulência.

Numa sociedade livre, tal traduz-se naturalmente na diversificação de visões e modelos para a prossecução dos seus objetivos. Como tal, não é de admirar que, à medida que as democracias amadurecem, haja cada vez maior variedade de iniciativas, movimentos e demais estruturas de intervenção política e cívica em geral.

Na sociedade, tal como na natureza, a configuração mais espontânea é assim aquela que permite ao sistema alargar o leque de escolhas, a disponibilidade de alternativas, por forma a dispor de maior flexibilidade para adaptar a sua caminhada às vicissitudes da vida, às flutuações internas e perturbações externas.

Tudo isto é muito bonito, mas nem tudo são rosas na produção de entropia. Deixar o sistema em roda livre de diversificação de escolhas resultaria numa configuração de máxima entropia que poderia ser confundida com anarquia. Não é portanto de admirar que sempre que há diversificação haja sempre quem agite o papão da anarquia ou ingovernabilidade para ativamente limitar escolhas, para apelar a uma convergência de caminhos, e em última análise para um pensamento e ação únicos.

Todavia, tentar impor um só caminho resultaria no determinismo absoluto, numa ditadura sistémica. O que invariavelmente privaria o sistema de capacidade para se adaptar e operar eficazmente perante as surpresas e vicissitudes da vida.

Entrosando Liberdades, Esculpindo Soluções

Felizmente, uma sociedade sã, tal como a natureza, não é um mundo a preto e branco reduzido a uma dicotomia entre determinismo e aleatoriedade, entre ditadura e anarquia. Face à produção de entropia e consequente diversificação sistémica, não é necessário espartilhar a dinâmica balizando-a em valores castradores de liberdade. Basta promover a coevolução sistémica entre abordagens diversas e complementares, através da geração de entrosamento quântico entre os caminhos da liberdade.

Que se pretende dizer com geração de entrosamento quântico neste contexto? Tão simplesmente promover a interação coevolutiva com mistura termodinâmica entre partes distintas com identidade própria, traduzindo-se num entrosamento entre caminhos de liberdade, entre distribuições de probabilidade. Resultando numa configuração híbrida sinérgica integrada que pode ser um par, uma tríada, ou mais geralmente um entrosamento coletivo multilateral.

Daqui decorre uma miríade de soluções potenciais, mas que na prática se articula em torno de soluções quantizadas correspondentes aos estados estáveis do sistema. Tal como sucede com os estados quantizados da energia subjacentes às configurações estáveis que esculpem aquilo que percepcionamos como matéria no meio físico. 

A configuração de entrosamento não é uma justaposição em manta de retalhos, mas uma articulação sistémica coerente e interdependente. De tal modo que tudo o que suceda a uma das partes ecoa pelas demais numa otimização multivariada pelo bem comum. Como sucede nos domínios mais diversos desde a articulação entre quarks compondo um protão, à de tudo aquilo que nos compõe como um todo orgânico.

Entrosamento Político em Termodinâmica Eleitoral

Em política, a geração de entrosamento quântico entre caminhos de liberdade pode emergir da negociação e cocriação de iniciativas, acordos formais ou mesmo coligações entre partidos que hajam sido eleitos pelos cidadãos no seu exercício consciente de liberdade. De tal modo que a configuração final não é tão entrópica como a diversidade levada ao extremo, mas também não redunda na rigidez de um determinismo monolítico, porquanto o entrosamento alia as partes sem as diluir.

O entrosamento resulta assim não numa liberdade amordaçada, mas numa liberdade responsável. Onde as partes exercem o livre arbítrio de partilhar e escutar, de negociar soluções optimizadoras não cingidas a elas mesmas, mas de um bem maior, porquanto uma coligação saudável não é um exercício de competição, mas de cooperação. O entrosamento visto nesta acepção termodinâmica coevolutiva não é um elo meramente correlativo, mas sim um elo fundamentalmente sinérgico. Aqui, o todo transcende a soma das partes na medida em que interações sinérgicas geram valor acrescentado. Como tal, daqui emerge toda uma nova dimensão de liberdade e governabilidade que seria inatingível sem interação sinérgica entre as partes.

Imaginemos que na natureza cada um estaria por si, sem interagir construtivamente com os demais, sem articular os respetivos caminhos de liberdade, sem entrosar as respetivas distribuições marginais de probabilidade numa distribuição acoplada. Os quarks não se articulariam para formar protões, os átomos não se articulariam para formar moléculas, e em última análise não haveria qualquer estrutura no cosmos, nem galáxias, nem estrelas, nem planetas, nem compostos… e nem vida. Quebrar a interação construtiva seria caminhar para o colapso. Oh, isto não vos lembra nada?

Felizmente na hora da verdade a natureza puxa sempre de um coelho da cartola. Se até os neutrinos, que pareciam ser partículas que não queriam nada com ninguém, afinal são até bastante cooperantes, não nos adm