Opinião

“Matrix”: nas salas ou no “streaming”?

Opinião de João Lopes.

“Matrix”: nas salas ou no “streaming”?

Nos EUA, o lançamento de “Matrix Resurrections”, em simultâneo nas salas e na HBO Max, abriu um confronto que pode ser marcante para a evolução de Hollywood.

Sou dos que pensam que o quarto capítulo de “Matrix” — “Matrix Resurrections”, estreado entre nós a 22 de dezembro de 2021 — não terá sido o momento mais feliz da saga. Apesar da sua sofisticação de fabrico, o filme possui mesmo aquela estranha monotonia de um objecto sem imaginação, apenas empenhado em acumular variações sobre os temas e situações que faziam o fascínio da trilogia inicial (sobretudo o primeiro título, lançado em 1999).

Dito isto, vale a pena referir que o reencontro de Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss pode vir a ocupar um inesperado lugar simbólico na evolução de Hollywood em tempos de “streaming”. Isto porque a produção da Village Roadshow Pictures para os estúdios da Warner Bros. está à beira de tornar a peça central de um conflito jurídico que não parece ter uma solução óbvia. Assim, a Village processou a Warner pelo facto de, nos EUA, o estúdio ter lançado o filme em simultâneo nas salas e na sua plataforma HBO Max.

Que está em jogo? Pois bem, uma opção de difusão, muito polémica, que o estúdio já tomara para títulos como “Dune” ou “The Suicide Squad”, opção que, argumenta a Village, comprometeu de forma dramática a rentabilidade do filme. E é um facto que “Matrix Resurrections” arrecadou nas bilheteiras pouco mais de 150 milhões de dólares (sendo apenas 39 referentes ao mercado dos EUA). Tendo em conta que o seu orçamento foi de 190 milhões — e não esquecendo que, como é habitual neste tipo de produções, a promoção deverá ter custado outro tanto —, os números são simplesmente desastrosos.

Segundo a Village, a Warner geriu “Matrix Resurrections” como um mero trunfo promocional da HBO Max, nessa medida comprometendo a rentabilidade do filme. Escusado será dizer que o caso está longe de ser linear, até porque os advogados da Warner estão também a processar a Village por não cumprimento das suas obrigações contratuais.

Uma coisa é certa: este confronto reflecte os equilíbrios e, como se prova, os desequilíbrios que continuam a pontuar as relações entre os circuitos tradicionais (as salas) e as novas alternativas digitais (o “streaming”). De uma maneira ou de outra, os seus resultados práticos vão ficar como referência na história próxima de Hollywood e, em boa verdade, de todas as formas de difusão cinematográfica.

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