Opinião

Uma carnificina é uma carnificina. Não tem outra leitura (isto não é para toda a esquerda)

Ao 5º dia da nova guerra continuamos chocados. Não só com os relatos que chegam de Israel, mas também com as posições políticas que vão sendo assumidas, ou não.

Uma carnificina é uma carnificina. Não tem outra leitura (isto não é para toda a esquerda)
IBRAHEEM ABU MUSTAFA

O que se passou no último sábado - o ataque brutal do Hamas numa quebra de segurança israelita inexplicável -, não pode ser escrito com meias palavras: foi um crime contra a humanidade, uma carnificina. Centenas de mortos, sequestros e até crianças decapitadas.

Quão degradante pode ser a humanidade.

As imagens são brutais. Quase nem podem ser exibidas pelas televisões tal é o horror. O desfoque na imagem, obrigatório pela violência, alivia o confronto com os atos sanguinários, mas não será preciso provocar reação? Às vezes temos de acertar em cheio no estômago para matar visões deturpadas da história. Ou teorias mal-amanhadas só convenientes aos que preferem continuar cegos.

A posição do PCP perante o ataque do Hamas é uma vez mais incompreensível. Repete o erro do início da guerra na Ucrânia ao não reconhecer o óbvio - era e sempre foi uma invasão da Rússia! Mas também os bloquistas entram numa narrativa, e em manifestações, anti Israel que lhes bloqueiam a palavra. Não pode haver linhas vermelhas perante um massacre. Nem realidades paralelas.

Aqui não está em causa defender um lado ou outro. Há culpas dos dois lados da fronteira, e as razões do conflito são de facto muitas e complexas, mas não é esse o ponto em discussão. Mesmo perante o que tem sido a atuação de Israel nos últimos anos, tantas vezes questionável, não pode haver complacências para o que se passou no sábado.

Ainda assim, Bloco e PCP insistem no direito à autodeterminação. Insistem na comparação com a Ucrânia, como se tudo fosse a mesma coisa. Fogem à condenação total e absoluta do sangue-frio do Hamas e assim ajudam a normalizá-lo.

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Mas as esquerdas não são todas iguais. Rui Tavares, com a sua capacidade única de ler a história, não teve medo das palavras. O Hamas é uma “organização terrorista” que nada tem a ver com a libertação dos palestinianos. É e sempre foi um opressor daquele povo e de outros que não pensem da mesma forma.

A esquerda de facto não é toda igual. Uns ficam nos livros pela coragem e pelo momento certo. Para os outros, a História, e sobretudo a realidade, é matéria de interpretação. Quando não serve a ideologia, arranja-se outra. Que tortura!