João Rosado

Comentador SIC Notícias

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Villas-Boas no bolso de Conceição

Opinião de João Rosado. É preciso arranjar dinheiro e, por incrível que pareça, o mercado estará fechado para Diogo Costa.

Villas-Boas no bolso de Conceição
Diogo Cardoso/Getty Images

Deve ser nestas alturas que André Villas-Boas dá graças a Deus por já não ser treinador. Atormentado, assim que tomou posse, pelo caos financeiro de um FC Porto que falhou a qualificação para a Liga dos Campeões, o sucessor de Pinto da Costa, apesar de tudo, não trocaria a tribuna presidencial pela sua velha cadeira de sonho. Agora é mais um pesadelo de cadeira e nela está sentado Vítor Bruno, até ao princípio da semana o único treinador da Liga proibido de dar as boas-vindas a um único reforço.

Consciente dos tempos de crise, o antigo adjunto de Sérgio Conceição, logo na cerimónia de apresentação, fez questão de valorizar ao máximo aquilo que qualificou como o “ouro” da casa e não se mostrou exigente no capítulo das contratações. Promessas do calibre de Martim Fernandes, Gabriel Brás, Vasco Sousa, Gonçalo Sousa e sobretudo Rodrigo Mora devem ter preenchido a linha de raciocínio do técnico que antes de aceitar o convite para uma carreira a “solo” no Dragão sabia que estaria desprovido de armas dignas desse nome no especulativo mercado de transferências.

Em evidente contraste com a política seguida pelo rival que (também) perdeu a corrida para o título 2023-2024, a nova administração tem-se limitado a validar a aposta nas pérolas do Olival e a acreditar no perdão concedido a atletas que debaixo da anterior liderança deixaram de traduzir qualquer ativo. Os regressos de David Carmo e Fran Navarro (ambos cedidos na última temporada ao Olympiakos) e a reintegração de André Franco, Iván Jaime e Toni Martínez têm muito que ver com os escassos recursos económicos e com as saídas de Pepe e Taremi, na prática ambas a... preço zero por muito que se respeite o contexto específico do internacional português.

Sem ter lucrado um cêntimo, o FC Porto deposita as fichas na valorização que os dragões mais novos tiveram no recente Campeonato da Europa, e tudo aquilo que não passe pela otimização de Diogo Costa e Francisco Conceição dificilmente representará um alívio substancial na tesouraria. Com uma cláusula de rescisão de 75 milhões de euros, o guarda-redes é de longe o futebolista no plantel de maior expressão mundial, enquanto o espalha-brasas Chico beneficia da irreverência sem limites exibida no Euro e de uma cláusula que subiu para 45 milhões de euros a 16 deste mês.

De acordo com o “Transfermarkt”, site referenciador das cotações à escala global, é esse o valor de mercado do próprio Diogo Costa, o que significa que, apesar do brilhantismo confirmado na Alemanha, uma eventual venda do passe pode concretizar-se por valores muito abaixo das expectativas plasmadas na renovação do contrato. Claro que a lei da procura e da oferta de talento pode acionar a qualquer instante a cláusula assinada sob aconselhamento de Jorge Mendes, mas passando em revista o leque de potenciais compradores não é líquido, longe disso, que o excecional Diogo desencadeie uma “loucura” dessa natureza.

Diogo Costa
Eurasia Sport Images

SOMMER E SEGUE

Os clubes mais endinheirados, aqueles que têm condições reais para chegar às estrelas planetárias, não se dariam ao luxo de gastar 75 milhões para adquirir um eventual suplente. Em Espanha, Thibaut Courtois, Marc ter Stegen e Jan Oblak são por esta ordem inamovíveis no Real Madrid, FC Barcelona e Atlético Madrid e seria improvável que o quarto apurado para a Champions (o sensacional Girona) pudesse seduzir o preferido de Roberto Martínez.

Em Inglaterra, o panorama não é assim tão diferente. O interesse saudita em Ederson terá arrefecido e o City continuará com o internacional brasileiro, um pouco a exemplo do que acontece com Alisson no Liverpool. E embora só tenha disputado um desafio ao serviço de La Roja no Euro, o campeão David Raya continua a merecer toda a confiança de Mikel Arteta no Arsenal (que tem no banco Aaron Ramsdale, vice-campeão europeu...), com o compatriota Unai Emery a beneficiar no Aston Villa do “gigantismo” de Emiliano Martínez, tão polémico como popular na Argentina campeã do Mundo e recém-vencedora da Copa América.


Instituições da estirpe do Tottenham ou do Newcastle entrariam com facilidade no mapa de opções... se o critério fosse a faraónica folha salarial. Por outro lado, o “momento” desportivo de Chelsea e de Manchester United, independentemente da fiabilidade de Robert Sánchez ou Andre Onana, não inspira grandes sonhos a quem tem 24 anos e sabe que pode esperar pelo menos uma época, até que Manuel Neuer se reforme mesmo do Bayern Munique ou que Gianluigi Donnarumma abra vaga a mais um português no PSG.

Graças à performance do francês Mike Maignan, eleito há poucos dias para a equipa ideal do Europeu, o Milan deixou de ter saudades do referido Donnarumma e uma vez que só a Lombardia parece ter poderio monetário para as megaoperações resta o Internazionale como destino à medida do guardião portista.

O suíço Yann Sommer tem 35 anos e na squadra liderada pelo campeão Simone Inzaghi consta há algumas semanas um tal Mehdi Taremi. De repente, os astros poderiam conjugar-se para reunir o antigo 9 do FC Porto ao atual 99, nem que fosse por “apenas” 45 milhões de euros.

Face a todas estas circunstâncias, seria complicado imaginar maior golpe de mercado. A menos que o presidente dos dragões, 45 por 45, pedisse a Jorge Mendes para levar antes Chico Conceição, mantendo Diogo na Invicta durante o próximo ano.

Com o(s) Costa(s), André Villas-Boas sente-se sempre mais confortável, seja qual for a cadeira. Um é Pinto e o outro não engole frangos.