Dez pontos semanais para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.
1 – A RÚSSIA DEIXOU DE SER CONFIÁVEL. CEDER PARA ESPERAR A PAZ SERÁ MESMO O MELHOR CAMINHO?
Zelensky fez um ataque violento ao ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, que sugeriu na terça-feira que as negociações de paz deveriam visar a criação de fronteiras ao longo da “linha de contato” em Donbas, como existia na véspera da invasão russa: “Não importa o que o Estado russo faça, há alguém que diz: ‘vamos levar em conta os seus interesses’. Este ano, em Davos, foi ouvido novamente. Apesar de milhares de mísseis russos atingirem a Ucrânia. Apesar de dezenas de milhares de ucranianos terem sido mortos. Apesar de Bucha e Mariupol, etc. Apesar das cidades destruídas. E apesar dos ‘campos de filtragem’ construídos pelos russos Estado, em que matam, torturam e violam. A Rússia fez tudo isso na Europa. Mas ainda assim, em Davos, por exemplo, Kissinger emerge de um passado profundo e diz que um pedaço da Ucrânia deveria ser dado à Rússia”.
Kissinger disse sobre o conflito que “as negociações precisam de começar nos próximos dois meses antes que se criem convulsões e tensões que não serão facilmente superadas. Idealmente, a linha divisória deve ser um retorno ao status quo de antes da guerra”, aparentemente sugerindo que a Ucrânia concorda em desistir de grande parte do Donbas e da Crimeia: “Prosseguir a guerra além desse ponto não seria sobre a liberdade da Ucrânia, mas uma nova guerra contra a própria Rússia”, disse Kissinger.
2 – PARA PUTIN NEM ACORDO NEM APAZIGUAMENTO
Liz Truss, chefe da diplomacia do Reino Unido, destacou em Sarajevo, ao lado homólogo bósnio, Bisera Turkovic: “Não pode ser oferecido nenhum acordo ou apaziguamento a Putin”. Os países ocidentais devem garantir que o Presidente russo, Vladimir Putin, perde a guerra na Ucrânia, continuando a apoiar Kiev sem hesitações.
“É preciso continuar a mergulhar a fundo nos nossos recursos” e “continuar a fornecer à Ucrânia as armas de que necessita para vencer e recuperar a sua integridade territorial e soberania”, acrescentou, durante uma conferência de imprensa conjunta.
3 – SCHOLZ: “NÃO PODEMOS PERMITIR QUE PUTIN VENÇA ESTA GUERRA”
“Uma grande potência nuclear está a comportar-se como se tivesse o direito de redefinir fronteiras. Não podemos permitir que Putin vença”, disse o chanceler alemão em Davos.
Olaf Scholz tem reforçado o posicionamento da Alemanha na travagem à ameaça russa, numa espécie de ligação europeia entre a posição mais extrema dos EUA e Reino Unido na insistência do isolamento de Putin e a estratégia mais próxima do apaziguamento, que chegou a ser ensaiada por Macron.
4 – SEVERODONETSK PODE ESTAR POR HORAS
O exército russo continua a tentar cercar Severodonetsk, no leste da Ucrânia. Autarca diz que 60% dos edifícios da cidade já foram destruídos. O responsável militar ucraniano da região de Lugansk, Serhiy Haiday, avançou que nas últimas 24 horas morreram quatro pessoas em Severodonetsk, na sequência dos ataques russos. Haiday garante ainda que 50 casas ficaram danificadas e que houve ataques contra a esquadra da polícia de Lysychansk.
A madrugada desta sexta-feira fica marcada pelo avanço das tropas russas em direção a Severodonetsk, a maior cidade controlada pelos ucranianos na província de Lugansk, no Donbass (leste do país). O autarca local, Alexander Stryuk, garantiu à Associated Press que a cidade continua a resistir, apesar dos ataques que já terão provocado a morte a pelo menos 1.500 pessoas. Ao todo, 60% dos edifícios da cidade terão sido destruídos.
Segundo Stryuk, cerca de 12 mil civis ainda permanecem em Severodonetsk. Esta quinta-feira, apenas 12 pessoas conseguiram sair da cidade, de acordo com o autarca.
5 – CONSELHEIRO DE ZELENSKY PESSIMISTA EM RELAÇÃO À GUERRA
Oleksiy Arestovych admitiu estar pessimista em relação ao momento da guerra, numa altura em que o conflito se aproxima da marca dos 100 dias.
“Agora perdemos em relação ao exército russo em termos de ritmo. O Exército russo conseguiu acumular reservas antes de nós” reconheceu o conselheiro de Zelensky.
A sociedade ucraniana também está a ficar mais dividida e esperam-se combates internos e resistência. Depois de uma fase em que a resistência ucraniana deu mais força à capacidade de Kiev projetar esperança, os avanços russos dos últimos dias no Donbass estão a baralhar as contas e a obrigar a redefinir planos.
6 – BLINKEN AVISA PARA A IMINÊNCIA DO APOIO CHINÊS A PUTIN
O apoio da China a Putin “deve fazer soar campainhas”. O alerta foi feito pelo secretário de Estado dos EUA. Antony Blinken, criticou a China por defender a guerra contra a Ucrânia, referindo que essa defesa “deve fazer soar os alarmes” para aqueles que habitam a região do Indo-Pacífico.
“Mesmo enquanto a Rússia estava claramente a mobilizar-se para invadir a Ucrânia, o presidente Xi e o presidente Putin declararam que a amizade entre os seus países era, e cito, ‘sem limites’”, declarou Blinken, que enfatizou que os EUA não estão à procura de um conflito ou de uma nova Guerra Fria com a China.
“A nossa missão é provar mais uma vez que a democracia pode enfrentar desafios urgentes, criar oportunidades, promover a dignidade humana, que o futuro pertence àqueles que acreditam na liberdade, e que todos os países serão livres para traçar os seus próprios caminhos sem coerção. Não estamos à procura de um conflito ou de uma nova Guerra Fria. Pelo contrário, estamos determinados a evitar ambos. Mesmo que a guerra do Presidente Putin continue, continuaremos focados no desafio mais sério de longo prazo à ordem internacional, representado pela República Popular da China.”
7 – EUA PREPARAM PACOTE DE AJUDA MILITAR À UCRÂNIA QUE INCLUI ROCKETS DE LONGO ALCANCE
Entretanto, as Forças armadas ucranianas dão conta de alguns avanços russos na região de Donetsk, incluindo o controlo da aldeia de Midna Ruda, a apenas 16 quilómetros da importante cidade Bakhmut. Bakhmut é uma cidade-chave para as rotas de abastecimento do exército ucraniano na frente leste da guerra. As forças terrestres russas continuam a tentar cercar Severodonetsk e Lyschansk, tendo recentemente capturado várias aldeias a noroeste de Popasna, de acordo com último relatório do Ministério da Defesa do Reino Unido.
8 – “PUTIN ESTÁ A CHANTAGEAR O MUNDO COM O BLOQUEIO DO MAR NEGRO”
Dmytro Kuleba, ministro dos negócios estrangeiros da Ucrânia, disse que Putin está a “chantagear o mundo”. A acusação surge depois de Moscovo ter exigido o levantamento das sanções como condição para permitir a exportação de cereais pelo Mar Negro e, assim, evitar uma crise alimentar mundial.
Em Davos, também a presidente da Comissão Europeia acusou a Rússia de usar os alimentos como arma de guerra depois de ter feito o mesmo com a energia. “Na Ucrânia ocupada pelos russos, o exército do Kremlin está a confiscar stocks de cereais e máquinas (…) E navios de guerra russos no Mar Negro estão a bloquear navios ucranianos cheios de trigo e sementes de girassol”.
9 – ALEMANHA CRIA PONTE FERROVIÁRIA COM A UCRÂNIA PARA ESCOAR CEREAIS
A Alemanha criou uma ponte ferroviária com a Ucrânia para a ajudar a exportar as 22 milhões de toneladas de cereais que a Rússia está a bloquear pelo controlo dos portos do Mar Negro. A notícia foi dada pelo próximo chefe das forças militares dos EUA na Europa, o general Chris Cavoli.
O porto romeno de Constanta participa no esforço de exportação, mas a sua capacidade está limitada a 90 mil toneladas por dia, avançou Cavoli, cuja nomeação para a chefia das forças norte-americanas e, portanto, da NATO, ainda tem de ser confirmada pelo Congresso.
10 – YANUKOVICH ACUSADO DE TRAIÇÃO
Ainda sobre o bloqueio do Mar Negro, o Ministério da Defesa da Ucrânia avançou que os grupos navais russos nas zonas do Mar Negro e de Azov estão a isolar áreas de combate e a realizar ataques com mísseis contra infraestruturas na Ucrânia. Forças russas vão destacar duas divisões adicionais de mísseis antiaéreos na zona noroeste da Crimeia, para aumentar o sistema de defesa aérea.
O ex-presidente da Ucrânia pró-russo, Viktor Yanukovych, foi acusado de traição e condenado a prisão à revelia por um tribunal ucraniano, por ter assinado o pacto de Kharkiv em 2010, permitindo à Rússia manter a frota no Mar Negro. A Ucrânia vai receber mísseis de defesa costeira para recuperar operação do porto de Odessa, o maior do país.