Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XX): a Rússia move-se para Oeste

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (XX): a Rússia move-se para Oeste

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós:

1 – A RÚSSIA MOVE-SE PARA OESTE. A zona oeste da Ucrânia foi atacada pela primeira vez pelo exército russo, na sexta-feira. As forças russas lançaram vários ataques com mísseis que causaram “danos substanciais” na cidade de Dnipro. Também atacaram aeroportos no oeste do país, em regiões que, até agora, tinham escapado ao conflito. Pelo menos duas pessoas morreram nesses ataques. Segundo o Governo russo, foram “lançadas armas de longo alcance e alta precisão” contra infraestruturas militares ucranianas. Foram registados ataques na região de Volynska e em cidades como Lutsk, Ivano-Frankovsk, Kiev e Baryshivka, onde cerca de 70 habitações foram atingidas por um bombardeamento. A flexão para Oeste reforça a tese de que Putin quer mesmo toda a Ucrânia e também que pode interessar-lhe, nesta fase, sinalizar que tem condições de se aproximar do espaço NATO a um ponto suficientemente ameaçador para que isso não seja ignorado. Veremos se será uma movimentação estrutural ou apenas tática e conjuntural. Não se vê que Putin tenha interesse real de tomar Lviv, cidade a apenas 80 quilómetros da Polónia, com o que isso significava de tensão máxima com a NATO e de perturbação na passagem dos corredores humanitários e da fuga dos refugiados. Até agora, pelo menos, não se vê que vantagem a Rússia teria em passar a comprometer essas duas frentes.

2 – TROPAS RUSSAS APROXIMAM-SE DE KIEV. Forças russas estão a aproximar-se de Kiev, revelam imagens de satélite, que indicam vários disparos de artilharia contra áreas residenciais. Uma segunda tentativa de tomar Kiev estará por horas ou dias, mas sobram ainda muitas interrogações sobre que estratégia será adotada e como serão movimentadas as duas colunas militares que se aproximam da capital ucraniana. A principal delas, com mais de 60 quilómetros, estará a 15 quilómetros de Kiev e teve, nas últimas horas, alguma movimentação que apontará para que esteja a ser separada e desmembrada, de modo a não ser um alvo fácil para as forças de resistência ucranianas, que tiveram muito tempo para a identificar e caracterizar. A Ucrânia acusa as forças russas de terem raptado o autarca de Melitopol, uma cidade tomada pelos russos durante a invasão. Fontes ucranianas dizem que Ivan Fedorov foi raptado depois de ter sido acusado falsamente de terrorismo.

3 – PRINCIPAIS CIDADES POLACAS ATINGIRAM LIMITE NA RECEÇÃO DE REFUGIADOS. Varsóvia e Cracóvia não acolhem mais refugiados: a guarda fronteiriça polaca anunciou que as cidades de Varsóvia e Cracóvia não poderão receber mais refugiados. A capital da Polónia já acolheu 200 mil pessoas, enquanto Cracóvia recebeu cem mil. Pelo menos 2,5 milhões de ucranianos já abandonaram o país desde o início da invasão russa. O Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados estima que o número de refugiados pode ascender para os quatro milhões.

4 – NOVAS SANÇÕES AMERICANAS ATINGEM DEZ MEMBROS DA ADMINISTRAÇÃO DO VTB BANK E 12 MEMBROS DA DUMA. As novas sanções anunciadas pelos Estados Unidos visam 10 pessoas que fazem parte do conselho de administração do VTB Bank, 12 membros da Duma – a câmara baixa do parlamento russo – e a família do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. O Presidente Biden já havia anunciado a proibição de importações da Rússia, incluindo frutos do mar russos, vodka e diamantes e disse que essas novas sanções dariam “outro golpe esmagador” à economia do país após a invasão da Ucrânia.

5 – O FATOR BIELORRUSSO. A Bielorrússia pode lançar uma invasão da Ucrânia nas próximas horas hoje à noite, alerta a Ucrânia. O centro estatal de comunicações estratégicas da Ucrânia disse que a Bielorrússia pode lançar uma invasão da Ucrânia hoje após uma reunião em Moscou entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder bielorrusso Alexander Lukashenko. Entretanto, o Presidente da Ucrânia considera que começou uma fase de terror em que as forças russas querem eliminar todas as autoridades ucranianas, incluindo as locais, e voltou a acusar as tropas de Putin de desrespeitarem os corredores humanitários. Zelensky anunciou que na sexta-feira foram retirados 7.144 civis das cidades ucranianas de Enerhodar, Bucha, Hostomel e Kozarovychi, ainda assim um número inferior àquele registado nos últimos dois dias. O presidente da Ucrânia acusa a Rússia de impedir a retirada de civis da cidade de Mariupol e anunciou que a Ucrânia vai voltar a tentar entregar comida e medicamentos este sábado à cidade. “É doloroso informar que Mariupol continua bloqueada pelo inimigo. As tropas russas impediram que a nossa ajuda humanitária chegasse à cidade e continuam a torturar os nossos habitantes de Mariupol. Amanhã [sábado] tentaremos novamente. Voltaremos a enviar comida, água e medicamentos para a nossa cidade”.