Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XXXI): Biden vs Macron: divergência e complementaridade na travagem a Putin

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (XXXI): Biden vs Macron: divergência e complementaridade na travagem a Putin

1 – VIA MACRON E ESTILO BIDEN: DIVERGENTES MAS COMPLEMENTARES A LIDAR COM PUTIN

Emmanuel Macron diz que não usaria as palavras de Joe Biden (que chamou “carniceiro” a Putin) e alerta contra “escalada de palavras”. O Presidente francês argumentou, em entrevista à France 3, que é necessário manter as vias diplomáticas abertas para negociar com o Presidente russo e evitar a escalada tanto de palavras como de ações: “Tudo tem de ser feito no sentido de impedir a escalada da situação”. Macron destaca que a sua missão é “alcançar, em primeiro lugar, um cessar-fogo e, depois, a retirada total das tropas russas pela via diplomática”.”Se queremos fazer isso, não pode haver uma escalada nem de palavras nem de ações”.

Ora, é óbvio que isso implica uma divergência de estilo e linguagem entre Macron e Biden. Ontem, o Presidente dos EUA fez em Varsóvia um discurso forte, corajoso, poderoso, mas para muitos excessivo contra Vladimir Putin, rotulando o seu homólogo russo de “carniceiro” e desabanado: “Por amor de Deus, este homem não pode continuar no poder”. A Casa Branca, nas horas seguintes, apressou-se a esclarecer que estas palavras do Presidente não implicam mudança na posição oficial da administração americana em relação ao que se passa no Kremlin. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, suavizou as palavras do seu Presidente. Falando ao lado do chefe da diplomacia de Israel, Blinken lembrou que a América não uma política de mudança de regimes, nem quanto à Rússia nem em lugar algum.

Macron tem nova conversa agendada com Putin para “amanhã ou depois de amanhã”, mantendo-se assim como uma espécie de pivô da frente ocidental, no diálogo possível com Putin. Já quanto a Biden, depois das palavras de ontem na Polónia, parece querer assumir o lado mais emocional, mais afetuoso, mais moral desta guerra – classificando o comportamento de Putin de hipócritca, cínico e indecente.

As diferenças são claras, mas talvez não sejam negativas: a via Macron e o estilo Biden são obviamente divergentes e acabam por se complementar. Porque, na verdade, o espaço NATO, o Ocidente, a relação transatlântica precisa de múltiplas capacidades para enfrentar a ameaça russa: precisa de estratégia, de liderança, de sangue frio, de diálogo de negociação; mas também de coração, de coragem, de valores e, sim, de emoção.

Para derrotarmos Putin precisamos de Macron mas também de Biden.

2 – ALEMANHA PONDERA COMPRAR SISTEMA ANTIMÍSSEIS DE FABRICO ISRAELITA

O Governo alemão está a ponderar adquirir um sistema israelita de defesa antimísseis, na sequência da invasão russa da Ucrânia, revelou hoje a presidente do Comité de Defesa do parlamento germânico. “Dada a ameaça e os vários sistemas de armas de que dispõe a Rússia, é claro que devemos estar interessados, é lógico”, declarou Marie-Agnes Strack-Zimmermann ao jornal Welt.

Segundo Marie-Agnes Strack-Zimmermann, “existem diferentes opções, especialmente porque este escudo foi construído para um míssil muito específico, disparado em altitude muito alta, que chega do espaço e que um sistema de defesa convencional não pode ajudar.

3 – ONU DENUNCIA 1.119 MORTOS CIVIS DESDE 24 DE FEVEREIRO

As Nações Unidas indicam que o número de mortos civis atinge 1.119 desde que a invasão russa da Ucrânia começou. O número de feridos é de 1.790, de acordo com o departamento de direitos humanos da ONU. Entre os mortos haverá quase 100 crianças, de acordo com o comunicado das Nações Unidas.

O organismo liderado pelo português António Guterres admite que o número de vítimas será consideravelmente mais alto, com ações de que prosseguem hostilidades intensas em várias regiões e relatos de mortos que ainda não foi possível confirmar.

4 – NEGOCIAÇÕES RETOMADAS ESTA SEGUNDA NA TURQUIA

Um elemento da delegação ucraniana avançou que a próxima ronda de negociações entre a vai decorrer na Turquia entre 28 e 30 de março, ou seja já amanhã até quarta. David Arakhamia revelou, numa publicação no Facebook, sem no entanto especificar onde é que as duas delegações se vão encontrar esta segunda-feira. As negociações diretas entre as duas partes não alcançaram para já resultados relevantes, mas a mediação turca tem sido encarada pelos dois lados como positiva.

Há pouco, o Presidente Zelensky, em mais um discurso divulgado em vídeo para todo o mundo, exortou: “Iremos reconstruir a Ucrânia depois da guerra”. Zelensky afirma que só há uma escolha: travar a Rússia e salvar a Ucrânia. Para isso, pede ao Ocidente que arme a Ucrânia com material militar, “armas, tanques, para travar o mal”. O Presidente ucraniano exige ainda mais sanções contra a Rússia, nomeadamente no setor energético – gás e petróleo – e apela a um cessar-fogo e à retirada total das tropas russas de território ucraniano.

5 – KIEV REJEITA CEDER DONBASS AOS RUSSOS PARA TRAVAR A GUERRA

A Rússia passou a dizer que a “próxima fase” da guerra se focará no Leste da Ucrânia, apontando que a sua prioridade seria mesmo o Donbass – embora a insinuação das palavras em nada corresponda com os atos agressivos no terreno, que continuam a estender-se por toda a Ucrânia, até mesmo pela ponta oeste, em Lviv.

Ainda assim, o Governo ucraniano deixou o aviso: “nenhum país do mundo” reconhecerá o resultado de um eventual referendo anunciado pelos dirigentes da autoproclamada República separatista de Lugansk, no leste da Ucrânia, que segundo Kiev seria “ilegal”.

Kiev argumenta que esta consulta à população seria “ilegal” e que, caso seja concretizada, a Rússia enfrentaria uma “resposta internacional” mais contundente que as atuais sanções, aprofundando o seu “isolamento”.

A reação da diplomacia de Kiev segue-se às declarações de Leonid Paschenik, líder da autoproclamada República popular de Lugansk, que anunciou que num “futuro próximo” poderá ser organizado um referendo sobre a integração deste território russófono na Rússia, segundo a agência oficial russa TASS.

O líder dos serviços de informações da Ucrânia, Kyrylo Budanov, disse este domingo que o objetivo da Rússia é dividir o país ao meio, criando uma situação semelhante à divisão entre Coreia do Norte e Coreia do Sul.

A Coreia do Norte e a Coreia do Sul, historicamente um único país, estão divididas por uma zona desmilitarizada desde a década de 1940, quando, depois da Segunda Guerra Mundial, a parte norte ficou sob influência socialista da União Soviética e a parte sul sob influência capitalista dos EUA. Budanov avisou este domingo que a Rússia pretende implementar na Ucrânia uma solução semelhante.