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Portugal é dos países mais envelhecidos, medidas de incentivo à natalidade não têm funcionado

Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo e as medidas de incentivo à natalidade não têm funcionado até agora porque, defende a Associação Portuguesa de Demografia, ter filhos é uma decisão "privada do casal". 

No Alentejo, as taxas de incidência de depressão grave e de suicídio são "elevadíssimas" (Lusa/Arquivo)
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"Nós temos um problema de baixa fecundidade. Portugal é um dos poucos  países do mundo que continua ainda com uma tendência de declínio", lembrou  a presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Maria Filomena Mendes,  que falava à Lusa na véspera da conferência 'Nascer em Portugal', promovida  pelo Presidente da República. 

Na década de 60, a taxa de natalidade bruta era praticamente o dobro  da atual. Em 50 anos Portugal passou de mais de 200 mil nascimentos anuais  para cerca de 100 mil.   

Nos últimos anos verificou-se uma situação inédita no país: em 2007,  2009 e 2010 foram menos os que nasceram do que os que morreram. Resultado:  "Neste momento, somos um dos países mais envelhecidos do mundo", alertou.

Hoje, "a maioria das mulheres tem apenas um filho", sublinhou Filomena  Mendes, referindo-se aos números que apontam para uma média de 1.3 filhos por mulher. 

"A fecundidade de um país é o resultado de milhões de decisões tomadas  na intimidade dos casais", defendeu Filomena Mendes.  

A introdução no mercado dos métodos contraceptivos veio permitir programar  a chegada do primeiro filho. A pílula, por exemplo, surgiu há exatamente  50 anos em Portugal, mas nessa altura eram uma minoria as mulheres que a  tomavam. Hoje vendem-se cerca de oito milhões de embalagens por ano. Para  a maioria dos casais portugueses, o nascimento dos filhos passou a ser planeado  e, em muitos casos, adiado. 

Filomena Mendes acredita que os portugueses estão entre os europeus  que mais adiam o nascimento do primeiro filho porque existe um "adiamento  da transição para a vida adulta": "Em Portugal, os jovens saem tarde de  casa dos pais, tentam prolongar ao máximo a escolaridade, entram mais tarde  no mercado de trabalho", defendeu a especialista. 

Na década de 60, era habitual as mulheres serem mães aos 25, mas hoje  a maioria decide ter filhos entre os 30 e os 34 anos. Para a presidente  da Associação Portuguesa de Demografia não existem receitas mágicas para  aumentar a fecundidade, até porque "múltiplas variáveis influenciam de maneira  diferente os diferentes casais". 

Certo é que as politicas nacionais de incentivo à natalidade "não têm  resultado e a fecundidade continua a diminuir", alertou.  

Já o presidente da Associação Portuguesa das Famílias Numerosas (APFN),  Ribeiro e Castro, acredita que o "desastre" da baixa fecundidade se deve  precisamente às políticas governamentais: "As famílias portuguesas têm vindo  a ser sujeitas a uma política fortemente anti-natalista e é isso que justifica  esses números. Têm havido lindos discursos, mas a prática tem sido precisamente  oposta". 

Ribeiro e Castro aponta o dedo a medidas "tão elementares" como a definição  dos escalões de rendimentos em função do rendimento per capita. Lembra que  para efeitos de abono de família os filhos contam como 0,5, ou seja, "para  o Governo, as crianças tem metade do seu valor".   

A medida "foi decidida pelo anterior Governo, que desvalorizou as crianças  em 50%, e este Governo sancionou, porque já está no poder há vários meses  e ainda não alterou esta disposição", criticou. 

No IRS "a situação ainda é pior porque a dimensão das famílias e o número  de filhos não servem para rigorosamente nada no cálculo das taxas. O Governo  parte do princípio de que os filhos são uma extravagância e o mesmo acontece  com o "Passe Social Mais" e as taxas moderadoras". 

Para Ribeiro e Castro, a "politica anti-natalista em Portugal tem sido  muito mais dura do que a da China": "A nossa taxa de natalidade é inferior  à da China que, mesmo com a política de filho único, tem 1,6 e nós temos  1,3".  

Com Lusa