O estudo faz parte da tese de doutoramento do ex-inspector chefe da Polícia Judiciária (PJ) sobre "O Perfil em Homicídios Múltiplos: O Caso do Estripador de Lisboa", que foi defendida em julho na Universidade de Aveiro.
Na tese, que vai dar origem a um livro, Barra da Costa cruza os contributos da psicologia com a reconstituição dos factos, encontrando evidências que o levam a classificar o autor dos crimes como "um sujeito psicopata, com traços esquizóides".
Em declarações à agência Lusa, o investigador disse não ter dúvidas de que o estripador de Lisboa "não tem nada a ver com José Guedes", que alegadamente se assumiu como o autor dos três homicídios que ocorreram há 20 anos na região de Lisboa (1992 e 1993).
"Chamar-lhe-ia mais um indivíduo narcísico, que quer ter a auto-estima alta e diz que matou as prostitutas para ser conhecido. Isto é diferente de um psicopata que mata as pessoas e que nega a autoria dos crimes", explicou.
Segundo o criminologista, o assassino em série que atormentou a cidade de Lisboa seria "um indivíduo aparentemente normal, com uma vida social pouco ativa e uma visão hostil do mundo exterior".
"Seria um sujeito impulsivo e agressivo, sem capacidade para sentir qualquer empatia. Essencialmente vingativo e virado para si próprio, tenderia a desenvolver comportamentos de evitação social, mantendo os seus relacionamentos a um nível superficial", pode ler-se na sua tese.
Para a realização do estudo, Barra da Costa consultou os processos-crime que estavam guardados no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa e entrevistou o ex-coordenador da PJ João de Sousa, que liderou as primeiras investigações sobre este caso muito mediático.
A defesa de José Guedes, que vai ser julgado no tribunal de Aveiro pelo homicídio de uma jovem em 2000, pretende arrolar Barra da Costa como testemunha para ajudar a tentar provar que o arguido não é o estripador de Lisboa.
"Provar que ele não tem nada a ver com os crimes de Lisboa é um grande passo para provar que não tem nada a ver com este de Aveiro, também", disse à Lusa a advogada de José Guedes, Poliana Ribeiro.
Neste momento, está a decorrer o processo de seleção dos jurados para o julgamento com tribunal de júri, que deverá começar em setembro, após as férias judiciais.
José Guedes foi detido em novembro do ano passado pela Polícia Judiciária, por ser o principal suspeito da morte de uma jovem em 2000, nos arredores da cidade de Aveiro.
O arguido, que se encontra em prisão preventiva no estabelecimento prisional de Aveiro, está acusado pelo Ministério Público de um crime de homicídio qualificado.
Segundo o despacho de acusação, em data incerta, mas anterior às 17:00 de 16 de janeiro de 2000, José Guedes abordou a vítima no lugar da Póvoa do Paço, em Esgueira, com o pretexto de com ela manter relações sexuais remuneradas.
A jovem terá então sido conduzida a uma casa isolada em construção, na Rua dos Poisios, onde alegadamente José Guedes lhe desferiu diversos golpes que a atingiram na cabeça e lhe apertou o pescoço, causando-lhe lesões fatais.
Lusa