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Investigador diz que José Guedes não se enquadra no perfil do do "estripador de Lisboa"

O criminologista Barra da Costa considera que  José Guedes, acusado de ter matado uma jovem em 2000, não se enquadra no  perfil do estripador de Lisboa que o mesmo traçou no âmbito de uma investigação  iniciada em 2008. 

Arquivo SIC

O estudo faz parte da tese de doutoramento do ex-inspector chefe da  Polícia Judiciária (PJ) sobre "O Perfil em Homicídios Múltiplos: O Caso  do Estripador de Lisboa", que foi defendida em julho na Universidade de  Aveiro. 

Na tese, que vai dar origem a um livro, Barra da Costa cruza os contributos  da psicologia com a reconstituição dos factos, encontrando evidências que  o levam a classificar o autor dos crimes como "um sujeito psicopata, com  traços esquizóides". 

Em declarações à agência Lusa, o investigador disse não ter dúvidas  de que o estripador de Lisboa "não tem nada a ver com José Guedes", que  alegadamente se assumiu como o autor dos três homicídios que ocorreram há  20 anos na região de Lisboa (1992 e 1993). 

"Chamar-lhe-ia mais um indivíduo narcísico, que quer ter a auto-estima  alta e diz que matou as prostitutas para ser conhecido. Isto é diferente  de um psicopata que mata as pessoas e que nega a autoria dos crimes", explicou.

Segundo o criminologista, o assassino em série que atormentou a cidade  de Lisboa seria "um indivíduo aparentemente normal, com uma vida social  pouco ativa e uma visão hostil do mundo exterior". 

"Seria um sujeito impulsivo e agressivo, sem capacidade para sentir  qualquer empatia. Essencialmente vingativo e virado para si próprio, tenderia  a desenvolver comportamentos de evitação social, mantendo os seus relacionamentos  a um nível superficial", pode ler-se na sua tese. 

Para a realização do estudo, Barra da Costa consultou os processos-crime  que estavam guardados no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP)  de Lisboa e entrevistou o ex-coordenador da PJ João de Sousa, que liderou  as primeiras investigações sobre este caso muito mediático. 

A defesa de José Guedes, que vai ser julgado no tribunal de Aveiro pelo  homicídio de uma jovem em 2000, pretende arrolar Barra da Costa como testemunha  para ajudar a tentar provar que o arguido não é o estripador de Lisboa.

"Provar que ele não tem nada a ver com os crimes de Lisboa é um grande  passo para provar que não tem nada a ver com este de Aveiro, também", disse  à Lusa a advogada de José Guedes, Poliana Ribeiro.  

Neste momento, está a decorrer o processo de seleção dos jurados para  o julgamento com tribunal de júri, que deverá começar em setembro, após  as férias judiciais. 

José Guedes foi detido em novembro do ano passado pela Polícia Judiciária,  por ser o principal suspeito da morte de uma jovem em 2000, nos arredores  da cidade de Aveiro. 

O arguido, que se encontra em prisão preventiva no estabelecimento prisional  de Aveiro, está acusado pelo Ministério Público de um crime de homicídio  qualificado. 

Segundo o despacho de acusação, em data incerta, mas anterior às 17:00  de 16 de janeiro de 2000, José Guedes abordou a vítima no lugar da Póvoa  do Paço, em Esgueira, com o pretexto de com ela manter relações sexuais  remuneradas. 

A jovem terá então sido conduzida a uma casa isolada em construção,  na Rua dos Poisios, onde alegadamente José Guedes lhe desferiu diversos  golpes que a atingiram na cabeça e lhe apertou o pescoço, causando-lhe lesões  fatais. 

 

Lusa