Numa entrevista à Agência Lusa por ocasião dos 15 anos da Expo'98, o arquiteto referiu que quis ter o traço dos colegas Siza Vieira e Gonçalo Ribeiro Telles naquela obra por "representarem o pensamento contemporâneo ligado à cidade" e, por isso, atribuiu-lhes diretamente dois trabalhos: o Pavilhão de Portugal e o Cabeço das Rolas, respetivamente.
"Foi feito o projeto, mas a obra nunca foi completada e creio que o Cabeço das Rolas está completamente abandonado. Tenho muita pena, quer pela qualidade do projeto, quer por ser uma zona verde do Parque das Nações que tem uma posição muito importante pela sua relação com a frente do Tejo", afirmou.
Quanto ao Pavilhão de Portugal, o arquiteto classificou-o como "uma tragédia" e questionou "como é possível deixá-lo cair e deixá-lo degradar-se sem qualquer utilização".
"Um edifício com o valor arquitetónico e o valor de memória que tem, como é possível estar abandonado?", perguntou.
Luís Vassalo Rosa criticou ainda a transformação a que a Torre Vasco da Gama foi sujeita, lembrando que o seu objetivo inicial era ser um monumento evocativo dos 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia.
"Acho que nunca devia ter sido feito o hotel. São desrespeitos da memória. Choca-me", afirmou.
Questionado sobre as críticas de excesso de construção no Parque das Nações, Luís Vassalo Rosa admitiu que podem ter sido construídos edifícios habitacionais para locais onde estavam inicialmente projetados outros espaços.
Sublinhando que não trabalha no Parque das Nações desde que a Expo'98 terminou, o arquiteto disse que "foram transferidas áreas que estavam programadas para equipamentos para outros usos", nomeadamente habitação, serviços e comércio.
Contudo, frisou que o Parque das Nações "tem um rácio médio de casas em relação aos vários bairros da cidade de Lisboa", porque "houve essa preocupação quando se fez o plano de urbanização".
O arquiteto lembrou ainda que as teorias da sustentabilidade urbana defendem a "polarização, a concentração, a densidade".
Recordando os tempos de criação do Parque das Nações, Vassalo Rosa disse que "um dos primeiros grandes desafios era o deserto que ia ser aquele território depois de acabar a exposição".
"Era o nosso grande drama. Daí a nossa estratégia da localização central da Estação do Oriente, do centro comercial, dos hotéis, das sedes de serviço e até da habitação", afirmou.
Em jeito de balanço, disse, o testemunho mais importante da exposição mundial é que foi possível consolidar aquele espaço como um espaço público, de fruição da população, onde houve muita inovação e criatividade nas soluções arquitetónicas.
"Depois houve a memória da exposição. A cidade é feita das pessoas e da memória. Ficou o suporte que proporciona a vivência da memória e o perpetuar dessa memória, da festa", acrescentou.
"A recordação que me fica foi tudo o de positivo que houve. As coisas difíceis estão muito bem arrumadas e foram ultrapassadas. Houve momentos difíceis e com certeza que houve erros também, não tenho ilusões. A Expo foi um passo nesta conquista do futuro. Já passou, agora vêm outros", referiu o arquiteto.
Orgulhoso da obra, Luís Vassalo Rosa fez questão de frisar que não é o único responsável porque aquele foi um "projeto coletivo que passa por todos os que lá trabalharam, do mais alto responsável ao menos qualificado trabalhador".
Lusa