Em carta aberta dirigida hoje ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, o CCISP considera que "não existem condições de confiança" para o ministro da Educação e Ciência "continuar a tutelar o ensino superior".
Na origem da carta estão declarações de Nuno Crato, na quarta-feira, à RTP1, em que afirmou que o sistema de formação de professores "tem várias falhas", como a preparação dos candidatos "à entrada para os cursos de habilitação à docência".
O ministro também levantou dúvidas quanto à preparação à saída do curso, sobretudo nos casos em que as licenciaturas não foram obtidas em universidades.
Na carta a Passos Coelho, o CCISP defende que o titular da pasta da Educação "colocou em causa, de modo explícito, e sem qualquer fundamento factual, a formação ministrada nas escolas superiores de educação, vincando uma diferenciação depreciadora entre a qualidade de formação ministrada nestas instituições e a formação dada nas universidades".
Para o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, trata-se de um "incidente da máxima gravidade, com impacto profundo na imagem social das instituições, dos seus profissionais, estudantes e diplomados".
No ofício, o CCISP entende que "a postura assumida pelo ministro pode condicionar gravemente o futuro do desenvolvimento e da consolidação do sistema de ensino superior português".
Segundo os politécnicos, as declarações do ministro à RTP1 "desautorizam" e "descredibilizam" a atividade da A3ES - Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, "entidade criada pelo Estado em 2007 e cuja missão é precisamente garantir a qualidade dos cursos do ensino superior".
O CCISP acorre em defesa das escolas superiores de educação, apontando que o seu "potencial" e "desempenho" tem "sido sublinhado por todas as avaliações externas realizadas pelas organizações mais prestigiadas internacionalmente, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico e a Associação das Universidades Europeias".
O Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos queixa-se, ainda, das "afirmações depreciativas", por parte do ministro, sobre o ensino superior politécnico e o "papel que este tem desempenhado, e poderá desempenhar, na qualificação da população portuguesa, na modernização do tecido produtivo nacional e no desenvolvimento das regiões".
Já na quinta-feira, o presidente do CCISP, Joaquim Mourato, tinha lamentado à Lusa as declarações de Nuno Crato, considerando que revelavam uma "grande desconfiança" na Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, que exerce um "trabalho de elevadíssima credibilidade".
Lusa