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Autarquia da Praia da Vitória considera que pedido dos EUA destaca a posição geoestratégica dos Açores

A escolha da ilha Terceira como um dos locais possíveis para o transbordo de químicos oriundos da Síria permitiu "relevar" a posição geoestratégica dos Açores, na opinião do presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória.  

Transbordo de químicos oriundos da Síria poderá ser feito na Terceira

"A abordagem feita pelos Estados Unidos ao Governo português assenta em duas palavras-chave: em primeiro lugar, o facto de Portugal ser um aliado empenhado nas questões da paz mundial e a posição geoestratégica da Terceira", frisou, em declarações à Lusa, Roberto Monteiro, autarca da Praia da Vitória. É no concelho da Praia da Vitória que fica localizada a base militar das Lajes, usada pela força aérea dos EUA. 

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Portugal anunciou na terça-feira que as autoridades norte-americanas contactaram Portugal para avaliar a possibilidade de realizar o transbordo de material químico proveniente da Síria num porto nos Açores, não havendo ainda decisão. O presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, revelou, por seu turno, que a acontecer o transbordo nos Açores, seria usado o porto da Praia da Vitória. 

Os químicos começaram a sair da Síria em 07 de janeiro, no âmbito de um acordo sobre o desmantelamento do arsenal de armas químicas do regime de Damasco. 

Roberto Monteiro disse ter sido contactado na segunda-feira pelo presidente do Governo Regional dos Açores, que lhe transmitiu o conteúdo da comunicação feita pelo MNE. Nesse sentido, o autarca salientou que o contacto dos Estados Unidos da América "toca em dois aspetos que têm sido postos em causa: a verdadeira força dos laços entre Portugal e os EUA e o enfoque fundamental desta abordagem na posição geoestratégica dos Açores". 

Segundo Roberto Monteiro, o executivo açoriano impôs como condições que o transbordo, a ser feito na Terceira, tivesse lugar no porto afeto aos EUA, na Praia da Vitória, e que os riscos fossem minimizados.

O autarca admitiu que uma operação deste género tem sempre "algum risco", mas salientou que a "salvaguarda das questões ambientais e de segurança é uma questão prioritária". "Este tipo de operações envolve uma estrutura altamente especializada que consegue minimizar os riscos da sua operacionalização", frisou.  

Já hoje, a Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), envolvida no programa de desarmamento químico na Síria, disse desconhecer qualquer transbordo de químicos em Portugal, afirmando que a operação decorrerá num porto italiano ainda não identificado. 

Um responsável da organização explicou ainda à Lusa que embora se trate de um programa de eliminação de armas químicas, não há qualquer arma a sair da Síria: são apenas químicos. 

"O que vai ser retirado da Síria, e mais tarde levado para este navio norte-americano para ser neutralizado, são apenas químicos", divididos em dois grupos, o primeiro dos quais corresponde a cerca de 700 toneladas de agentes que representam maior ameaça - "se alguém lhes pusesse as mãos em cima, seria muito fácil produzir armas químicas". 

O segundo grupo é de químicos industriais, que têm de ser retirados apenas porque estavam a ser usados no programa de armas químicas.