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"Truques" de doentes e cuidadores vão estar online em plataforma inédita

Tocar piano para atrasar uma doença neuromuscular,  usar óculos de sol especiais contra a hipersensibilidade e adaptar um chapéu-de-chuva  para chegar mais alto são alguns "truques" de doentes partilhados a partir  de sexta-feira numa plataforma inédita. 

Os pais de um rapaz perceberam que tocar piano o exercício de tocar piano ajuda a combater a progressão da doença Charcot-Marie-Tooth (CMT), uma doença neuromuscular degenerativa, que afeta nomeadamente as mãos / Reuters
© Eduardo Munoz / Reuters

"Patient Innovation" é a primeira plataforma de partilha de inovações  desenvolvidas por doentes ou cuidadores que tem como objetivo facilitar  a partilha de soluções desenvolvidas pelos próprios para melhorar a qualidade  de vida de doentes portadores de diversas patologias ou dos seus cuidadores.

O projeto é liderado por Pedro Oliveira, investigador português da Universidade  Católica e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que enaltece  o pioneirismo desta plataforma que tem tradução automática e permite, por  isso, que doentes e cuidadores de todo o mundo se entendam na partilha das  soluções que encontraram para melhorar a sua qualidade de vida. 

A partir de sexta-feira - dia em que será apresentada publicamente a  plataforma (com o endereço patient-innovation.com) - estarão disponíveis  depoimentos de doentes e cuidadores que, desta forma, partilharão os "truques"  que encontraram para minimizar o impacto das doenças. 

"Quando uma pessoa tem uma doença crónica, muitas vezes incurável, o  que faz é tentar encontrar soluções para ter uma vida mais confortável",  disse Pedro Oliveira. 

Em declarações à agência Lusa, o investigador adiantou que são "soluções  que funcionaram para eles e que se revelaram bastante poderosas".  

Um dos casos que consta na plataforma é o de Diogo Lopes, um rapaz de  14 anos a quem há quatro anos foi diagnosticada a patologia de Charcot-Marie-Tooth  (CMT), uma doença neuromuscular degenerativa, que afeta nomeadamente as  mãos. 

O Diogo, que toca piano desde os cinco anos, e os seus pais descobriram  que o exercício de tocar piano ajuda a combater a progressão da doença,  pelo menos nas mãos. 

Nesta rede também consta o testemunho de Paula, mãe de uma criança com  Cornelia de Langue Syndrome (CdLS), com distúrbios comportamentais graves  e forte preferência por uma rotina estruturada.  

A Paula percebeu que o filho era hipersensível ao sol e ao barulho,  que geravam nele comportamentos agressivos, nomeadamente de auto-agressão.

Esta mãe desenvolveu técnicas simples como o uso de óculos de sol largos  (que cobrem os olhos na totalidade) e de tampões dos ouvidos.  

Paula desenvolveu jogos para evitar lugares barulhentos, como uma competição  para fazer as compras no supermercado em menos de dois minutos, depois de  perceber que este é o tempo de tolerância do filho ao barulho. 

Portadora de nanismo, Maria lida diariamente com dificuldades em chegar  aos botões dos elevadores. Para conseguir ultrapassar esta limitação, arranjou  um chapéu-de-chuva extensível, retirou o cabo e adaptou-o.  

Este cabo extensível cabe na sua mala e permite-lhe alcançar coisas  antes inacessíveis para ela.  

 

Lusa