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Advogado de Vara diz que o "Face Oculta" visava atingir Sócrates 

O advogado do arguido Armando Vara admitiu hoje,  nas alegações finais do julgamento do caso "Face Oculta", que este processo "tem uma dimensão política" e que visava atingir o Governo de José Sócrates.

Armando Vara (Centro) - (Lusa/Arquivo)
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"Há aqui uma censurabilidade generalizada ao poder político que reinava  em 2009, que condiciona e justifica esta acusação, nomeadamente contra o  meu constituinte", afirmou o advogado Tiago Rodrigues Bastos, no início  das suas alegações, no Tribunal de Aveiro. 

O defensor referiu ainda que, desde o início do processo, há "uma ideia  de combate aos poderosos", fazendo referência a "um sentimento que perpassa  de que há um poder político que a acusação não gosta". 

Tiago Rodrigues Bastos chegou mesmo a afirmar que o processo "é acarinhado"  por esta acusação, justificando que o mesmo se manteve no Departamento de  Investigação e Ação Penal de Aveiro, devido à desconfiança "brutal", relativamente  a esse poder político. 

A defesa de Armando Vara criticou ainda duramente os procuradores do  Ministério Público (MP) que investigaram o caso, caracterizando a acusação  como "um verdadeiro disparate" e afirmou que o seu cliente não praticou  os factos de que vem acusado. 

O advogado realçou ainda que, devido a este processo, Armando Vara "viu  a sua vida desmoronar-se", pondo fim a uma carreira na banca. 

"Armando Vara era vice-presidente do maior grupo bancário nacional e  almejava ir mais longe e, de repente, tudo isso cessou", afirmou o causídico,  admitindo que nunca pensou que alguém pudesse ser tão penalizado por uma  acusação "que não vale nada". 

O advogado Tiago Rodrigues Bastos pediu ainda ao tribunal para não tratar  o seu cliente "de forma menos positiva" por ser "um nome sonante", assumindo  que está "intranquilo e apreensivo" com o sentido da decisão final, pelas  "decisões e atitudes" do coletivo de juízes ao longo do julgamento. 

A sessão foi suspensa às 17:45, prosseguindo na quinta-feira com a continuação  das alegações finais da defesa do antigo ministro e ex-administrador do  BCP. 

Armando Vara está acusado de três crimes de tráfico de influência, sendo  suspeito de ter recebido 25 mil euros do empresário Manuel Godinho, o principal  arguido no processo. 

Segundo a acusação, em 2009 Armando Vara terá exercido a sua influência  junto do então ministro das Obras Públicas Mário Lino para destituir a então  secretária de Estado Ana Paula Vitorino e o então presidente do Conselho  de Administração da REFER, Luís Pardal. 

O processo "Face Oculta" está relacionado com uma alegada rede de corrupção  que teria como objetivo o favorecimento do grupo empresarial do sucateiro  Manuel Godinho, nos negócios com empresas do setor empresarial do Estado  e privadas. 

Entre os 36 arguidos estão personalidades como Armando Vara, antigo  ministro e ex-administrador do BCP, José Penedos, ex-presidente da REN,  e o seu filho Paulo Penedos. 

 

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