A Federação Portuguesa de Caça (Fencaça) e a Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses (CNCP) "concordam com a reintrodução do lince ibérico, mas não com a forma ambígua como tem vindo a ser delineado e desenvolvido todo este processo, onde não foram discutidos os problemas de fundo", revela um comunicado das duas organizações.
Estas associações estiveram ausentes da cerimónia de assinatura do Pacto Nacional para a Conservação do Lince Ibérico, que decorreu na terça-feira, iniciativa do secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Miguel de Castro Neto, mas ambas faziam parte da lista de aderentes, constante no documento.
"Não foram suficientemente acautelados e esclarecidos alguns aspetos fundamentais em torno deste projeto, designadamente condições, locais, condicionalismos, proibições e contrapartidas da reintrodução" do felino, uma das espécies mais ameaçadas do mundo, pode ler-se no comunicado das duas organizações.
Para os representantes dos caçadores, "por esclarecer continuam questões básicas como as datas anuais de início e encerramento da caça ao coelho e taxa de esforço das zonas de caça", assim como "se as montarias continuarão a ser autorizadas e se o controle de predadores de espécies cinegéticas continuará a ser autorizado".
Miguel de Castro Neto disse à agência Lusa, na terça-feira, que a presença de coelho bravo, principal alimento do felino, continua a ser monitorizada e os dados "indicam que a população está a aumentar e previsivelmente a todo o tempo irá proceder-se à reintrodução do lince".
O secretário de Estado apelou à adesão de todos os portugueses, e setores como agricultura ou caça, cuja atividade está relacionada com a presença do lince, ao pacto de modo a obter as condições necessárias à reintrodução da espécie.
As organizações de caçadores consideram, porém, que a redução para "mínimos históricos" da população de coelho bravo em Portugal, devido a nova estirpe da doença hemorrágica viral, "deveria ter motivado o Estado a desenvolver esforços" na recuperação dos habitats.
"Ao invés, a preocupação passou apenas pela definição de metas e formas de reintrodução do lince ibérico", criticam.
Interferir no setor da caça sem os contributos destas organizações, "não faz qualquer sentido", defendem as entidades que consideram ter contribuído para o ordenamento cinegético do país, a gestão sustentada dos recursos naturais, a manutenção da biodiversidade e o desenvolvimento socioeconómico do mundo rural.
"O Estado e o Governo deveriam ter reconhecido esse trabalho e estimulado o envolvimento de todos, abarcando todas as vertentes e tendo como parceiros estas estruturas organizativas que representam praticamente todo o território nacional", salientam.
A Lusa pediu um comentário da Secretaria de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, às críticas da CNCP e da Fencaça, e aguarda a resposta.
Lusa