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Tudo o que precisa saber sobre a moção de censura

O Governo minoritário do PS enfrenta esta terça-feira a sua primeira moção de censura, a 29.ª em 43 anos de democracia, mas PCP, BE e PEV já anunciaram que vai "chumbar" a iniciativa do CDS-PP. Esta é a sétima moção de censura apresentada pelo CDS-PP e a 29.ª a ser discutida na Assembleia da República. Os três partidos de esquerda que têm apoiado o executivo, PCP, BE e PEV, já anunciaram que votam contra. Com os votos do PS, a moção é chumbada.

Assembleia da República
Assembleia da República

O que é uma moção de censura?

A moção de censura está prevista no artigo 194.º da Constituição e é um instrumento parlamentar para os partidos da oposição penalizarem o Governo. No limite, pode ditar a sua queda. A Assembleia da República, lê-se nesse artigo, "pode votar moções de censura ao Governo sobre a execução do seu programa ou assunto relevante de interesse nacional, por iniciativa de um quarto dos Deputados em efetividade de funções ou de qualquer grupo parlamentar".

E quais as suas consequências?

Para ser aprovada, é necessária uma maioria absoluta de deputados, ou seja 116 dos 230 deputados. E se for aprovada, o artigo 195.º estipula que implica a demissão do Governo "a aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções".

​​​​​​​Quantas moções já foram apresentadas?

Em 43 anos democracia, já foram apresentadas 28 moções de censura. A do CDS, na terça-feira, será a 29.ª.

E quantas moções já fizeram cair o Governo?

Apenas uma, em abril 1987. O então PRD, o Partido Renovador Democrático, apresentou uma moção contra o Governo minoritário do PSD, liderado por Cavaco Silva. Era o ataque do PRD por o executivo ter criticado a visita de uma delegação de deputados à Estónia, numa altura em que a república báltica ainda integrava a ex-URSS. Antes de aprovada no parlamento, o PRD ainda tentou uma solução governativa com o PS, então liderado por Vítor Constâncio, mas o Presidente da República de então, Mário Soares, optou pela dissolução e convocou eleições antecipadas, que deram a primeira maioria absoluta, ao PSD de Cavaco Silva.Um outro executivo, este liderado por Carlos da Mota Pinto, caiu, a 11 de junho de 1979, mas devido à ameaça da apresentação de duas moções de censura - do PS e do PCP. Com a aprovação das moções garantida, Mota Pinto demitiu-se na véspera.

Qual o partido recordista de moções de censura?

É o PCP, com sete moções apresentadas, seguido do CDS, também com seis. Com a moção de amanhã, os centristas igualam os comunistas, com sete. PS e bloquistas apresentaram cinco cada um e o PEV apresentou duas. O PSD apenas apresentou uma, no ano 2000 contra o Governo socialista de António Guterres.

Qual foi o Governo mais censurado?

Foi o Governo PSD/CDS, liderado por Pedro Passos Coelho (2011-2015), com seis moções. À frente do primeiro executivo, de maioria absoluta do PS, de José Sócrates, com quatro.

E o primeiro-ministro mais censurado?

Foram dois : José Sócrates (2005-2011) e Pedro Passos Coelho (2011-2015), com seis moções de censura cada. José Sócrates enfrentou quatro no primeiro governo, maioritário, e duas no segundo, minoritário. Cavaco Silva (1985-1995) foi alvo de cinco censuras, uma das quais derrubou o seu governo, em 1987. O mesmo número de moções que Durão Barroso, à frente de um executivo PSD-CDS (2002-2004) enfrentou. Mário Soares, líder histórico do PS, enfrentou apenas uma, do CDS, em 1984.

O que levou o CDS apresentar esta moção de censura?

Dois dias depois dos incêndios de 15 de outubro, na região centro e norte, que fizeram 44 mortos, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, anunciou a apresentação de uma moção de censura. Os centristas acusam o Governo do PS, liderado por António Costa, de falhar na "função mais básica do Estado: proteger as pessoas". Para o CDS-PP, "o Governo falhou, não corrigiu o seu comportamento em tempo, e voltou a falhar" nos incêndios de Pedrógão Grande, em junho, e nos dos dias 15 e 16 de outubro, na região Norte e Centro, que provocaram, no total, mais de cem mortos. "Esta censura dá voz à indignação de muitos portugueses que se sentem abandonados e perderam a confiança no Governo, o primeiro responsável pela condução do Estado", nas palavras do líder parlamentar centrista, Nuno Magalhães.Na moção, com o título "Pelas falhas do Governo nos incêndios trágicos de 2017", os centristas consideram que "as medidas anunciadas para o médio e longo prazo não justificam a omissão no curto prazo" e que, no período entre as duas tragédias, "o primeiro-ministro não se mostrou disponível para assumir as responsabilidades políticas" já contidas no relatório da Comissão Técnica Independente. Desde o anúncio da moção até hoje, demitiu-se Constança Urbano de Sousa de ministra da Administração Interna, que foi substituída por Eduardo Cabrita, que era, até agora, ministro Adjunto. No sábado, o Governo reuniu-se em Conselho de Ministros extraordinário, e em que aprovou uma série de medidas de apoio às populações afetadas e de prevenção e combate aos incêndios para o futuro.

​​​​​​​O que vão fazer os partidos que apoiam o Governo no parlamento?

Os três partidos que têm apoiado o Governo, PCP, BE e PEV, já anunciaram que vão votar contra a iniciativa do CDS. Tendo em conta a maioria de esquerda na Assembleia da República, a moção de censura terá o "chumbo" como destino. Comunistas e Verdes condenam o que consideram tratar-se de uma tentativa de retirar dividendos políticos de tragédias, como os fogos florestais de junho e outubro, ou meras estratégias partidárias por parte dos democratas-cristãos. Os bloquistas criticaram a moção de censura ao Governo definindo-a como um "truque grotesco" e consideraram chocante que o CDS invoque "responsabilidade de outros" quando Assunção Cristas, ex-ministra da Agricultura, foi "responsável pela "liberalização total da expansão do eucalipto".

E o PSD?

O PSD, antigo parceiro de Governo do CDS, vai votar ao lado dos centristas. O líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, defendeu que o Governo "não merece uma segunda oportunidade" e responsabilizou diretamente o primeiro-ministro pelo "falhanço do Estado" nos incêndios do verão. Como cidadão, Passos Coelho disse sentir "vergonha" pelo que se passou no país nos últimos meses e lamentou que não tenha havido, pelo menos, "um pedido de desculpas" aos que sofreram as consequências dos incêndios.

Lusa