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Cheias de 1967: "Foi uma noite de terror"

Numa aldeia onde todos se conhecem ou quase todos são família, todos perderam algo ou alguém. Luísa Fajardo viu partir nessa noite cerca de 30 familiares. Morreu a irmã ano e meio mais nova. Morreram os avós. A mãe nunca recuperou da perda. Luísa, 50 anos depois, ainda vê as palavras saírem embargadas pela dor.

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"Cheias de 1967, 50 anos depois" é uma reportagem a ver hoje no Jornal da Noite da SIC.

Naquela noite de 25 para 26 de novembro de 1967, a morte caiu do céu. A chuva miudinha ao longo do dia de sábado passou a tormenta e virou demónio que arrastou consigo centenas de vidas. A tragédia despertou o país para a pobreza nos arredores de Lisboa, onde milhares viviam encaixados em barracas, perto de ribeiros, sem eletricidade ou esgotos.

O regime quis, dias depois, censurar o número exato de vidas que se perderam. Ficou-se pelos mais de 460, de acordo com o balanço oficial. Terão sido à volta de 700, os mortos.

A chuva que caiu atingiu valores históricos, com o registo num período de cinco horas, ao cair da noite, a atingir o valor médio habitual para todo o mês de novembro. Choveu muito e com bastante intensidade, acima de tudo na linha de Cascais. Sendo que é nos arredores da capital que mais vidas se perderam, nos bairros pobres cheios de miséria, em Odivelas ou Loures.

Também no Ribatejo o dilúvio matou sem perdão. No lugar das Quintas, perto de Castanheira, morreram quase uma centena. Ficou conhecida como a aldeia mártir. As cheias de 1967 são ainda hoje conhecidas como a pior catástrofe natural depois do terramoto de 1755.