A 14 de março, Marielle, de 38 anos, foi morta à saída de uma favela do Rio, com quatro tiros na cabeça, com balas da Polícia Militar.
"Não acabou! Tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar!", "Fora Temer!", "Golpistas, fascistas - não passarão!", "Racistas, machistas - não passarão!" e "Importam vidas pretas!" foram algumas das palavras de ordem repetidas pela multidão concentrada junto à estátua de Camões, em Lisboa, onde o Coletivo Andorinha - Frente Democrática Brasileira de Lisboa, um dos movimentos que convocaram o protesto, afixou um enorme retrato desenhado de Marielle Franco.
Em baixo, lia-se "Marielle presente", um mote da manifestação, ao qual os participantes respondiam "Hoje e sempre!", e depois também "Anderson presente! Hoje e sempre!" (Anderson era o nome do homem que conduzia a viatura onde Marielle seguia e que foi também assassinado).
Houve muitos discursos ao megafone, não só de figuras políticas, como as deputadas socialista Isabel Moreira e comunista Rita Rato e da bloquista Joana Mortágua, como de figuras da cultura, como as atrizes Maria João Luís e Marina Albuquerque, e de imigrantes brasileiros em Portugal, cujo denominador comum foi a necessidade de transformar "o luto em luta".
"Tentaram enterrá-la, mas mal sabiam que Marielle era semente", disse um dos cidadãos brasileiros que discursaram.
No Porto, a iniciativa organizada pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e pelo artista plástico brasileiro radicado em Portugal, Sama, pretendeu ser mais do que uma "manifestação de solidariedade", sublinhando o caráter "icónico de Marielle", destacou o também autor de banda desenhada. "Marielle foi morta numa execução" lembrou Sama, para quem a política brasileira foi a "primeira vítima assumida do golpe de Estado que destituiu Dilma [Roussef] da presidência do Brasil".
Destacando que em Marielle "é possível encontrar várias lutas numa pessoa só", Sama lembrou que ela "nasceu pobre e que por causa das políticas de integração venceu na vida, formou-se em Sociologia e em Ciência Política, sem nunca esquecer as suas origens".
Da parte da UMAR, a presidente Maria José Magalhães referiu-se à homenageada como sendo uma "mulher negra, feminista, lésbica, uma lutadora dos movimentos sociais, um ícone do movimento feminista que foi executada".
"Estamos aqui para expressar a nossa indignação, para exigir ao governo do Brasil uma investigação, que condene os culpados e que pare com os assassinatos", acrescentou. E prosseguiu: "eles pensavam que tinham matado a Marielle, mas o que conseguiram foi que ela se tornasse num ícone".
Com Lusa