O ministro das Finanças, Mário Centeno, afirmou esta sexta-feira, em entrevista no Jornal da Noite, que a aprovação das propostas de alteração que recuperam o tempo integral de serviço dos professores mostram "a esquerda a desviar-se para ser ultrapassada pela direita".
"O que ontem vimos foi a esquerda a desviar-se para ser ultrapassada pela direita e aprovar algo que não estava nas nossas posições comuns", disse o ministro.
Mário Centeno considerou que o diploma "na sua raiz" correspondia às propostas do CDS e do PSD e o que o Bloco de Esquerda (BE) e o PCP fizeram foi "abster-se numa boa parte do diploma".
"O que foi aprovado não foi a proposta do BE nem do PCP, mas, sim, o diploma que tem na raiz as propostas do CDS e do PSD às quais estes partidos tiraram os travões da sustentabilidade", sublinhou o governante.
"Em política, e em particular na condução da governação, as cautelas não se medem por estarmos ou não sozinhos", considerou.
O ministro salientou que nenhum partido com assento parlamentar colocou esta matéria no seu programa eleitoral, defendendo que a aprovação das alterações "é uma falta de respeito pelos eleitores, pelos contribuintes, pelos portugueses", ao implicar uma despesa de 800 milhões de euros, contra os 240 milhões que estavam previstos.
O diploma aprovado na quinta-feira na comissão parlamentar de Educação pelo BE, PCP, PSD e CDS "esconde a despesa, que manhosamente coloca no futuro", realçou Mário Centeno.
"É muito estranho ver a direita em Portugal, que tinha para si os cânones da responsabilidade orçamental, tomar decisões como esta", disse ainda o governante, que criticou a falta de preparação dos partidos que aprovaram as alterações.
"O Mourinho e o Guardiola quando treinavam o Real Madrid e o Barcelona discutiam mais as táticas das suas equipas do que aqueles partidos discutiram a educação em Portugal em conjunto", considerou o ministro.
Questionado sobre se foi contactado por Bruxelas devido ao anúncio do primeiro-ministro, António Costa, segundo o qual o Governo irá demitir-se caso o diploma dos professores seja aprovado em votação final no plenário, Centeno respondeu negativamente.
"Não, nem informalmente", garantiu, considerando que a posição do Governo "foi tomada com muita humildade".
Mário Centeno afastou ainda a possibilidade de um Orçamento Retificativo, afirmando que "Portugal tem hoje uma credibilidade interna e externa que não é compatível com retificativos".