País

Ator Ângelo Rodrigues vai fazer mergulho hiperbárico

Tratamento em câmara hiperbárica visa acelerar a cicatrização e potenciar o efeito da medicação, desde logo dos antibióticos. O ator, de 31 anos, faz esta segunda-feira a primeira sessão, no Hospital das Forças Armadas, no Lumiar. O mergulho seco é prescrito para múltiplos problemas, da visão ao pé diabético. Doenças de descompressão, como acidentes de mergulho, são residuais

Ator Ângelo Rodrigues vai fazer mergulho hiperbárico
Loading...

É mais uma tentativa para reduzir as sequelas da infeção e das várias cirurgias a que foi submetido. O ator Ângelo Rodrigues, de 31 anos, internado desde a semana passada no Hospital Garcia de Orta, Almada, na sequência de uma infeção generalizada, após a injeção indevida de testosterona, inicia esta segunda-feira a primeira sessão do tratamento em câmara hiperbárica. O mergulho seco tem lugar no Hospital das Forças Armadas, no Lumiar.

O tratamento, com várias sessões e neste caso em maca, tem como objetivo acelerar o processo de cicatrização das feridas infligidas para remover os tecidos atingidos pela infeção e potenciar os efeitos dos fármacos, desde logo da antibioterapia. A ter sucesso evitará, por exemplo, intervenções cirúrgicas drásticas como a amputação da perna, onde se localizou o foco da infeção por uso indevido de injeções de testosterona na tentativa de aumentar a massa muscular.

Os tratamentos são prescritos para múltiplos problemas, da visão ao pé diabético. As doenças de descompressão, como acidentes de mergulho são residuais. A utilização clínica de câmaras hiperbáricas é pouco conhecida para a grande maioria da população e quase sempre está associada a acidentes de mergulho, mas a realidade é outra. Portugal tem várias unidades públicas de medicina subaquática e hiperbárica e a grande maioria dos utilizadores são utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com doenças sem qualquer ligação a atividades na água.

Os centros do Estado funcionam em Matosinhos, no Hospital Pedro Hispano; no Campus de Saúde Militar no Lumiar, em Lisboa; no hospital açoriano de Ponta Delgada ou no Hospital do Funchal, na Madeira. Os doentes são sobretudo referenciados por especialistas hospitalares do SNS, e por alguns do sector privado, para tratarem problemas diversos, que vão do foro oftalmológico à diabetes, por exemplo. Os acidentes de mergulho são, afinal, os menos expressivos.

Mesmo nas infraestruturas militares do Lumiar, os utilizadores são quase todos civis e com indicações pouco ou nada associadas a doenças de descompressão. “O centro foi criado para dar apoio aos mergulhadores e submarinistas da Armada e formação e treino aos profissionais de saúde que são chamados à área operacional, mas desde o início — em 1989 no Alfeite e desde 2015 no Lumiar — que a população civil também pode usufruir. 98% dos utentes tratados para fins médicos são civis”, explica o diretor do Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica, no Lumiar, Francisco Gamito Guerreiro.

Contas feitas, só a unidade do Lumiar, que serve toda a área entre Coimbra e o Algarve, trata cerca de 50 pessoas por dia, num total superior a dez mil sessões por ano. “O oxigénio hiperbárico tem uma porção de oxigénio maior e chega muito mais às células, plasma [sangue] e tecidos do que com uma máscara de alto débito numa enfermaria. Por isso, torna-se muito importante quando é preciso aumentar o aporte de oxigénio”, explica o médico naval.

Segundo as orientações internacionais, “o tratamento hiperbárico está fortemente recomendado em casos urgentes como intoxicações por monóxido de carbono e doenças de descompressão — os acidentes de mergulho, que no Lumiar são cinco a seis por ano”. As indicações incluem também “embolias gasosas, por consequência de um exame invasivo, por exemplo; gangrenas ou até infeções anaeróbicas, nas quais o oxigénio hiperbárico ajuda a matar as bactérias e a potenciar a atuação dos antibióticos”, acrescenta.

Ainda no grupo “fortemente recomendado”, o oxigénio hiperbárico é utilizado em situações de rotina, com menor urgência. São disso exemplos a surdez súbita de causa desconhecida, lesões de radioterapia ou tumores da laringe que fragilizam a mandíbula. Neste caso, o ‘oxigénio enriquecido’ atua estimulando a reconstrução dos tecidos.

Igualmente importante, a medicina hiperbárica dá resposta a oclusões da artéria central da retina — o oxigénio hiperbárico evita a cegueira quando o tratamento é feito nas primeiras doze horas — , o pé diabético e até úlceras crónicas associadas a dificuldades na circulação sanguínea.

Dez minutos de 'descida'

O SNS garante o pagamento dos tratamentos aos seus beneficiários e nem sequer há lugar à cobrança de taxa moderadora. Cada sessão custa cerca de 60 euros e, conforme os casos, podem ser únicas, 20 ou até um total de 80.

“Os doentes são colocados numa câmara com 12 lugares, como se estivessem num avião mas sentados frente a frente. A câmara é depois pressurizada para criar o ambiente a uma determinada profundidade, uma espécie de mergulho em seco, e o tratamento começa quando é atingida a profundidade pretendida”, descreve Francisco Gamito Guerreiro.

São dez minutos para fazer ‘a descida’. Os doentes têm uma máscara que debita oxigénio a 100% e assim permanecem durante 75 minutos. Findo o tratamento, o “mergulho em seco” entra na fase final, com 15 minutos ‘de subida’ para fazer a descompressão e assim ‘regressar à superfície’.

Loading...