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Legionella: associação diz que empresas venceram vítimas “pelo cansaço”

“Passaram tantos anos que as pessoas se saturaram”.

Legionella: associação diz que empresas venceram vítimas “pelo cansaço”

O presidente Associação de Vítimas de Legionella considerou esta terça-feira que as empresas “venceram as vítimas do surto de Vila Franca de Xira pelo cansaço” para conseguir um acordo e evitar que o processo seguisse para julgamento.

Segundo uma decisão instrutória do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Loures, a Adubos de Portugal (ADP), a General Electric (GE – que se passou a chamar SUEZ II) e sete quadros das empresas asseguraram o pagamento de indemnizações às nove vítimas que faltavam, depois de já terem chegado a acordo com outros 64 ofendidos, do surto de legionella ocorrido em 2014.

O TIC de Loures refere que seis das vítimas recebem, cada uma, indemnizações de 22.500 euros, enquanto os outros três ofendidos recebem, cada um, 12.500 euros, com as empresas a terem também de pagar cerca de 650 mil euros aos hospitais que prestaram assistência médica às vítimas.

A decisão instrutória do TIC de Loures, assinada pela juíza de instrução criminal Ana Rita Loja, prevê a suspensão provisória do processo durante um ano, após o qual será arquivado, mediante o pagamento das indemnizações e das despesas hospitalares.

Fonte ligada ao processo disse esta terça-feira que, tanto as indemnizações, como os cerca de 650 mil euros relativos a despesas hospitalares, já foram entregues pelos arguidos.

Contudo, o presidente da Associação de Vítimas de Legionella, Joaquim Perdigoto, lamentou o desfecho deste processo, considerando que as vítimas “acabaram por aceitar a indemnização porque as empresas as venceram pelo cansaço”.

“Passaram tantos anos que as pessoas se saturaram. Foram vencendo as pessoas pelo cansaço e vale tudo”, declarou.

Apesar do desfecho deste processo, Joaquim Perdigoto lembrou que decorre ainda no Tribunal Administrativo de Lisboa uma queixa popular contra o Estado português, reclamando uma indemnização “por falhas e omissões de entidades públicas em relação às vítimas que ficaram fora do processo-crime”.

“Metemos uma ação popular, que ainda aguardamos, porque deixaram de fora 350 vítimas a quem não detetaram nexo de casualidade. Isto ainda está muito longe do final e enquanto tiver forças não desisto, nem que vá para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos”, assegurou.

Por seu turno, o presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira (PS), manifestou-se satisfeito com o facto de “ter sido alcançado um acordo para que as vítimas fossem ressarcidas”.

“Ainda não tive oportunidade para conhecer os detalhes da decisão, mas, confirmando-se, é um acordo importante, pois as pessoas poderão ser compensadas pelos danos que sofreram. Desde o princípio que a nossa preocupação foi garantir que as pessoas seriam ressarcidas. Portanto, creio que a Câmara fez bem o seu papel”, sublinhou o autarca.

Surto resultou na morte de 12 pessoas e mais de 400 infetados

Em março de 2017, o Ministério Público (MP) deduziu acusação contra as empresas Adubos de Portugal (ADP) e General Electric e outros sete arguidos por responsabilidades no surto, que teve início em 7 de novembro de 2014, causou 12 mortes e infetou mais de 400 pessoas.

No entanto, o MP só conseguiu apurar nexo de causalidade em 73 das pessoas afetadas e em oito das 12 vítimas mortais.

O surto de legionella em Vila Franca de Xira, o terceiro com mais casos em todo o mundo, foi controlado em duas semanas.

A doença do legionário, provocada pela bactéria Legionella pneumophila, contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.