"Metro em Campo de Ourique, sim! No Jardim da Parada, não!", defende o movimento cívico "Salvar o Jardim da Parada", constituído por moradores da freguesia lisboeta e que luta pela preservação e integridade deste espaço verde de "características únicas".
Em causa está a expansão da Linha Vermelha do Metropolitano de Lisboa entre São Sebastião e Alcântara, que inclui a construção de quatro novas estações, inclusive em Campo de Ourique. Neste caso, está previsto construir a estação a 31 metros de profundidade sob o Jardim Teófilo Braga, também conhecido por Jardim da Parada.
Conforme explica o movimento cívico, trata-se de "um jardim histórico e dos poucos espaços verdes de Campo de Ourique", e a obra prevista implica "o abate de algumas árvores e sobretudo alterando as condições edáficas do solo, colocando diretamente em risco árvores classificadas e indiretamente todas as outras".
O período de consulta pública do projeto de prolongamento da Linha Vermelha terminou a 2 de junho, mas só após essa data foram realizadas sessões de esclarecimento à população, com a participação da empresa de transporte público, inclusive a 8 de junho em Campo de Ourique.
"Tudo foi apresentado como definitivo ao arrepio das dezenas de intervenções de moradores contra esta escolha", indica o movimento, referindo que foi pedido ao Metropolitano que cedesse os estudos que permitiram escolher o local para a nova estação e que fossem colocados no site da junta, para que todos os interessados pudessem consultar.
Em 28 de junho, na reunião da assembleia de freguesia, moradores de Campo de Ourique voltaram a questionar a localização da futura estação e o facto de continuarem sem acesso aos vários estudos, reivindicando esclarecimentos, o que resultou na formação do movimento cívico, "com o objetivo de salvaguardar a integridade física, patrimonial e ambiental que define o conjunto de biodiversidade deste jardim".
Também decidimos iniciar o processo de recolha de assinaturas quer com presença física no coreto do jardim, quer colocando o abaixo-assinado em quase todo o comércio no perímetro do jardim, de modo a que todos os moradores tivessem acesso
No abaixo-assinado, dirigido ao ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e ao primeiro-ministro, António Costa, os moradores exigem "que seja encontrada uma solução alternativa para a estação do Metropolitano de Campo de Ourique, fora do Jardim da Parada", considerando que, caso a obra avance como está desenhada, a configuração atual e a dinâmica social deste espaço verde "serão irreversivelmente alteradas".
É o único jardim do bairro, património natural, local de encontro e fruição de gerações, crianças e adultos, apropriado há muito pela população, e não pode ser sacrificado para a construção da estação do Metropolitano. Somos pela preservação da integridade do jardim, que é de todos. A melhoria da mobilidade é desejável, mas não à custa da sua destruição e da destruição das suas árvores centenárias
O movimento apresenta ainda quatro pareceres, inclusive da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza, que manifesta "perplexidade" por o traçado da estação de Campo de Ourique "depender de construção massiva", e considera que "a solução proposta não preenche os requisitos mínimos de promover a sustentabilidade ambiental, social e económica".
Outros dos pareceres são do Fórum Cidadania Lx, que questiona se fará sentido "estropiar um jardim histórico (...) quando o local mais apropriado e já devidamente estudado é junto aos Prazeres, para daí sair o metro, cruzando a Avenida de Ceuta, em direção da estação ferroviária do Alvito"; da Plataforma em Defesa das Árvores, que considera "absurda" a escolha do Jardim da Parada por "sacrificar a vários níveis as suas árvores"; e do engenheiro civil Pompeu Santos, que defende cinco em vez de quatro novas estações, com a criação de uma em Campolide e a deslocalização da estação de Campo de Ourique para a Rua Francisco Metrass.
Com um investimento de 304 milhões de euros no Plano de Recuperação e Resiliência 2021-2026, o prolongamento da Linha Vermelha prevê a construção das estações Amoreiras, Campo de Ourique, Infante Santo e Alcântara.