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O que pode mudar nas farmácias para fazer face à escassez de medicamentos

O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos considera que é "fundamental que estes profissionais tenham mais facilidade de contacto com os médicos e acesso à informação clínica dos doentes".

O que pode mudar nas farmácias para fazer face à escassez de medicamentos
Marko Geber

Com o aumento das infeções respiratórias, as farmácias portuguesas estão a demorar mais tempo a repor alguns medicamentos.

A Associação Nacional de Farmácias admite que o aumento da procura tenha impacto na reposição de alguns fármacos. No entanto, os farmacêuticos sublinham que há alternativas no mercado e apelam aos utentes que comprem apenas em função das necessidades.

A Ordem dos Farmacêuticos diz que seria “fundamental que estes profissionais tivessem mais facilidade de contacto com os médicos e acesso à informação clínica dos doentes” para fazer face à escassez de medicamentos.

Hélder Mota Filipe, bastonário dos farmacêuticos, considera que há "capacidade de reposição" e defende um "aumento dos preços como solução para evitar o agravamento da situação".

A Associação Nacional de Farmácias também concorda com a subida, porque há fármacos a serem retirados pela indústria por falta de viabilidade económica.

Ainda assim, o preço não é a única razão para as falhas de medicamentos no mercado, sendo preciso analisar a causa e atuar de acordo com essa informação.

O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos disse ainda que as ruturas de medicamentos não são um problema apenas do mercado nacional - “são um problema europeu” -, mas sublinhou que Portugal tem “condições particulares que permitem que o problema se agrave”, apontando o mecanismo anual de revisão de preços.

“Tem a sua vantagem, que é o SNS [Serviço nacional de Saúde] pagar menos, em vez de pagar mais, e manter o acesso. Mas faz com que esta revisão seja sempre para manter ou baixar [o preço]. Só muito excecionalmente se pode aumentar”, afirmou.

Defende que, a este nível, é preciso perceber quando o medicamento deixar de ter sustentabilidade para se manter no mercado e “ter um mecanismo célere para rever adequadamente o preço nestes casos”.

Helder Mota Filipe apontou ainda os casos de falhas no mercado por causa de picos de procura, exemplificando com os fármacos para as infeções respiratórias pediátricas: “Há um aumento brusco da procura e o mercado não responde a tempo. Não quer dizer que haja rutura”.

Para além do aumento dos preços, o bastonário afirma que é "fundamental que estes profissionais tenham mais facilidade de contacto com os médicos e acesso à informação clínica dos doentes". O objetivo desta alteração seria os farmacêuticos conseguirem "resolver nas farmácias as habituais situações de rutura de medicamento".

Para o utente andar a fazer um "ping pong" até ter a sua prescrição "não é bom": "O que é preciso é que o doente fique com o problema resolvido na farmácia".

Hélder Mota Filipe propõe que haja um "conjunto protocolado de medidas que permita a intervenção de farmacêuticos", para que o doente não tenha de andar entre o consultório do médico e a farmácia até encontrar disponibilidade de medicamentos.

O bastonário diz mesmo que "há duas coisas que não existem em Portugal" e que para a "ordem era importante": em primeiro "ter capacidade de comunicar entre os farmacêuticos e os outros prestadores de cuidados" e em segundo "acesso à informação clínica relevante do doente".

O bastonário apontou ainda a necessidade de Portugal ter “uma verdadeira reserva estratégica”, sublinhando que seria preciso uma “perspetiva moderna” nesta matéria, aumentando a quantidade de medicamento em circulação para garantir que o Estado possa recorrer a esse stock para resolver problemas urgentes.

“Ter em Portugal uma verdadeira reserva estratégica de medicamentos pode amortecer significativamente o efeito de uma falta de medicamentos”, considerou o responsável, acrescentando: “A reserva estratégica do medicamento foi trabalhada no contexto covid, mas não responde às necessidades de uma sociedade moderna”.

Disse ainda que “manter nos hospitais e no laboratório militar um armazém estático de produtos que podem ser úteis em situações de crise não resolve o problema, pois passa a validade e, depois, os medicamentos não podem ser usados”.

“A nova realidade internacional é criar condições para que os operadores colaborem na reserva estratégica”, concluiu.