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"A cópia perde sempre com o original": o aviso (in)direto de Marcelo a Montenegro

Depois do recado ao autarca social-democrata de Lisboa, o Presidente Marcelo alertou o líder do PSD para o perigo de cair nas “emoções” em temas sensíveis como a imigração, sob pena de a imitação perder sempre para o original. Confuso? Pense em Montenegro como a imitação e em André Ventura como o original.

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República.
TIAGO PETINGA
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Num momento em que muitos consideram que o discurso do líder do PSD parece aproximar-se do Chega, o Presidente Marcelo entrou em cena com uma “reflexão genérica ilustrada pela prática” para, de forma indireta, deixar um recado a Luís Montenegro. “A cópia perde sempre com o original”, avisou.

Depois de na semana passada, o líder do PSD ter falado sobre a necessidade de Portugal escolher a melhor imigração, este domingo, Luís Montenegro deitou mais achas para a fogueira ao dizer ser “imoral” haver trabalhadores no ativo a ganharem menos do que desempregados. Apesar de ter recusado uma “geringonça à direita”, nunca bateu oficialmente com a porta ao Chega de André Ventura.

Confrontado com estas posições, o chefe de Estado recusou comentar (diretamente), dizendo que a sua posição é conhecida e que a mantém.

“Entendo que quando se trata de um tema tão sensível como esse [a imigração], temos que ter muito bom senso no seu tratamento. Estamos a falar de pessoas, vítimas em muitos casos de redes de utilização de seres humanos, e de deficiências no funcionamento do enquadramento na sua legalização ou no acompanhamento da sua atividade laboral, e isso já é uma responsabilidade nossa", vincou Marcelo.

Além disso, lembrou, Portugal é um país com “emigrantes espalhados pelo mundo”. Não podemos, por isso, disse, “ter dois pesos e duas medidas. Quando são os nossos são bons, quando são os outros são maus, mesmo que os outros estejam a fazer coisas sem as quais a economia não funcionava, que é o que se passa em muitos casos”.

Perante este facto, prosseguiu Marcelo, “as posições que são tomadas não podem ir atrás das emoções. É facílimo ir atrás das emoções, mas quando assim há dois problemas: primeiro, não se é racional, segundo, a emoção daquele que é mais emocional ganha sempre, a cópia perde sempre com o original”.

Estaria o Presidente a falar de Ventura, o original, e de Montenegro, a cópia? Não respondendo porque, recorde-se, não comenta posições dos partidos ou dos seus dirigentes, Marcelo concluiu aquilo que designou por “reflexão genérica ilustrada pela prática”.

“Declarações muito emocionais feitas em cima de casos correm o risco de ser irracionais e de irem a reboque de posições mais emocionais que terão sempre mais sucesso em termos de captar a opinião pública. O problema não é captar o sucesso da opinião pública, andar a disputar votos a ver quem é mais emocional nessa matéria, alguns dirão mais populista, mas é quem é que vê a questão com frieza em termos do interesse do país a curto, médio e longo prazo”, distinguiu sem concretizar quem é quem na sua reflexão.

Qual deve ser então o caminho? “É muito simples”, disse, “manter a cabeça fria e não ir a correr atrás do prejuízo pensando que se pode cobrir quem tem posições mais emocionais”.

O “palpite diário”

Na semana passada, depois de uma entrevista de Carlos Moedas ao jornal Público e à Rádio Renascença, na qual defendeu a imposição de contingentes para os imigrantes que querem instalar-se em Portugal, como forma de prevenir as degradantes condições em que muitos vivem, Marcelo entrou em ação.

Mais uma vez, sem querer comentar, mas comentando, o Presidente da República lembrou que a questão não passa pelo autarca social-democrata mas pelo Governo e Parlamento.

“É uma questão que implica, obviamente, uma apreciação global e o Governo e a Assembleia da República estão em melhor posição para poderem olhar para os dados e dizerem onde é que há falta de mão de obra, como é, que tipo de imigração, há regimes diferentes para a imigração (…). Quer dizer, não pode ser na base do palpite diário”, disse Marcelo aos jornalistas.