Este sábado, 13 militares da Marinha portuguesa recusaram cumprir uma missão de acompanhamento de um navio russo, a norte da ilha de Porto Santo, na Madeira. Alegam que o navio NRP Mondego apresenta várias falhas ao nível da segurança.
“O NRP Mondego apresenta limitações técnicas graves, que comprometem a segurança do pessoal e do material e o cumprimento da respetiva missão”, afirmam os militares, numa comunicação
A Associação Nacional de Sargentos (ANS) considera que é fundamental perceber as razões que levaram os militares a recusar a missão. António Lima Coelho, presidente da direção da associação, diz, em entrevista à TSF, que esta não é a primeira vez que uma situação destas acontece.
“No passado e sempre que situações destas, com maior ou menor dimensão aconteceram, raramente se procurou colmatar as razões que lhe estiveram adjacentes. Geralmente, procurou-se sempre, não reparar a situação mas matar o mensageiro. E isto é que é grave”, disse António Lima Coelho.
O presidente da direção da ANS questiona “a imagem” que estas situações transmitem para o exterior.
“Eu pergunto: que imagem é que dá quando dezenas de militares pedem abate ao quadro por não terem condições materiais, condições de carreira para progredir nas suas vidas?”
Marinha acusa militares de não terem cumprido o seu dever
A Marinha avança que está a investigar a situação, mas afirma que o navio tinha condições para navegar. Acusa os militares de não terem cumprido o seu dever. Segundo avança a Renascença, os militares vão ser alvo de um processo disciplinar.
Na nota enviada à agência Lusa, a Marinha confirma que o NRP Mondego estava com "uma avaria num dos motores", mas refere que a missão que ia desempenhar era "de curta duração e próxima da costa, com boas condições meteo-oceanográficas".
Aquele ramo das Forças Armadas refere ainda que o comandante do navio reportou que, "apesar das limitações mencionadas, tinha condições de segurança para executar a missão".
Segundo a Marinha, a decisão do comandante do navio foi feita apesar de o Comando Naval lhe ter dado liberdade para abortar a missão "em caso de necessidade superveniente".
A Armada sublinha que a "avaliação das prioridades das missões e estado do navio segue uma linha hierárquica bem definida e estruturada", sendo que "cabe apenas à Marinha, e à sua linha hierárquica, a definição de quais os navios em condições de cumprir com as missões atribuídas".
No que se refere às limitações técnicas do NRP Mondego, a Marinha refere que os navios de guerra "podem operar em modo bastante degradado sem impacto na segurança", uma vez que têm "sistemas muito complexos e muito redundantes".
"Essa avaliação, mais uma vez, pertence à linha de comando e à Superintendência do Material, enquanto entidade técnica responsável. Ambas as entidades não consideraram estar o navio inseguro para navegar", indica a Marinha.
Aquele ramo das Forças Armadas acrescenta ainda que "as guarnições dos navios são treinadas para operar em modo degradado, estando preparadas para lidar com os riscos inerentes, o que faz parte da condição militar".
Falhas nos motores, geradores e fugas de água e óleo
Na comunicação, avançada pelos 13 militares, são referidos várias avarias, a começar pelos motores. O motor de bombordo está inoperacional, enquanto o de estibordo apresenta fugas e necessita de manutenção “há cerca de 2.000 horas de funcionamento”.
Denunciam ainda o “risco do navio ficar sem energia elétrica” no decorrer da missão, “uma vez que um dos três geradores elétricos está avariado desde outubro e os outros dois apresentam “diversas fugas”.
Afirmam ainda que o navio “apresenta inúmeras fugas de óleo que se acumulam nos porões”, o que aumenta “significativamente o risco de incêndio”.
Nas redes sociais circulam imagens, alegadamente captadas dentro da embarcação da Marinha. É possível ver entrada de água em vários pontos – incluindo perto da zona elétrica – e zonas do navio inundadas.