O Almirante Gouveia e Melo deslocou-se até ao Funchal para falar pessoalmente com os 13 militares que recusaram acompanhar um navio russo. O chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional vincou que a disciplina e a hierarquia são fundamentais para o bom funcionamento da Marinha.
Gouveia e Melo começou por dizer aos jornalistas que "a hierarquia existe porque há necessidade de uma disciplina, não é o contrário, a disciplina não existe porque há uma hierarquia".
O almirante referiu que é imperativo que as forças militares sejam altamente disciplinadas.
“Quando nós quebramos a disciplina, o que nós estamos a quebrar, basicamente, é a essência das forças armadas. Nós não podemos permitir isso, nós militares, e muito menos eu enquanto comandante da Marinha vou permitir que isto se alastre ou que possa passar desapercebido e esconder debaixo do tapete um ato destes e, por isso, eu não posso esquecer”, vincou.
"Não gosto de mandar recados"
"Não gosto de mandar recados", continuou Gouveia e Melo, ao referir que foi confrontar os 13 militares "que executaram o evento" para lhes dizer "nos olhos e cara a cara" o que pensa acerca de toda esta situação.
Questionado sobre se deveria haver um investimento maior na Marinha portuguesa, o almirante esclareceu que não tem de achar "ou deixar de achar" o que quer que seja, uma vez que não foi eleito para decidir “acerca dessas questões”. Acrescentou que a sua função é apenas reportar ao Governo as necessidades desta força militar.
Incidente “não manchará, certamente, a nossa reputação”
Gouveia e Melo disse ainda que "não consegue dizer" se este incidente vai colocar Portugal "numa situação complicada perante os aliados", mas lembrou que Portugal tem um "enorme leque de operações que decorrem de forma brilhante e que são muito respeitadas pelos aliados".
"Não manchará, certamente, a nossa reputação, mas será notado pelos nossos aliados isso tenho a certeza absoluta", prosseguiu.
“Não são permitidos atos de indisciplina"
O almirante pronunciou-se ainda acerca do possível afastamento dos militares em foco na recente polémica e disse que não iria "fazer julgamentos precipitados" e que se deslocou até à ilha da Madeira para informar os profissionais em questão de que “não são permitidos atos de indisciplina”.
Segundo Gouveia e Melo, o ato de indisciplina "responde sobre duas coisas":
"Uma é o regulamento de disciplina militar, que está nas mãos dos militares, e outra é perante as leis do país. Há leis que não permitem indisciplina militar e não sou eu que as vou julgar, será um juiz de direito que vai julgar o comportamento e as consequências desse comportamento".
O chefe do Estado-Maior da Armada frisou ainda que não sabe que interesses é que este episódio possa ter servido.
“Do país não serviu, da Marinha não serviu e destes homens, que serão vítimas dos seus próprios atos, também não serviu certamente”, atirou.
Ressalvou também que "todos os dias" faz o seu trabalho "no silêncio dos gabinetes" e que as conversas que mantém com o Governo, relativamente à manutenção dos equipamentos da Marinha, "não são coisas para andar a discutir em público".
"Serão ainda hoje substituídos"
Apesar de não ter aberto o jogo quanto ao futuro da carreira militar dos 13 elementos da Marinha, Gouveia e Melo informou que os mesmos "serão ainda hoje substituídos" e que ficaram no Funchal apenas “a garantir tempo para que a substituição se procedesse”.
Face à inspeção realizada ao navio NRP Mondego, o almirante garantiu que "nunca teve dúvidas" sobre a sua "linha de comando, sobre o que é que a linha de comando decidiu, nem sobre o que é que a sua linha de material decidiu".
"Face ao ruído externo fiz questão de mandar uma inspeção independente da área do material vir aqui à Madeira e fazer uma inspeção ao navio e dizer-me: Será que o comandante errou? Será que a linha de comando errou? Será que a linha de apoio mais próxima ao navio errou na avaliação que fez? E foi um não, não erraram", afirmou.
“Não mandamos missões impossíveis”
Prosseguiu dizendo que o navio "não está nas melhores condições, mas os navios militares, face às suas redundâncias e às suas capacidades, operam também de forma degradada e não impedem de fazer missões".
Informou também que é feita manutenção em todos os navios sempre que é possível, tendo em conta as capacidades existentes. Sublinhou que “a Marinha não manda para missão navios sem a capacidade de as cumprirem”, acrescentando que "não mandamos missões impossíveis".
Desse modo, acrescentou que os 13 militares entenderam que o navio não estava em condições de cumprir a missão, mas que essa avaliação “não lhes compete”, já que “são militares que não têm o conhecimento global nem da missão, nem dos compromissos, nem do estado global do navio”.
Quanto à sua eventual presença no Parlamento, revelou que irá "em função do que o Parlamento exigir".
Vídeo partilhado nas redes sociais é verdadeiro?
Nos últimos dias tem sido partilhado nas redes sociais um vídeo que alegadamente mostra o navio NRP Mondego alagado. Gouveia e Melo fez questão de frisar que essas imagens não são verdadeiras, que já têm “no mínimo um ano e meio”, que "não são deste navio" e que a propagação desse vídeo “tem uma intenção e um objetivo” que é de denegrir a imagem da Marinha.