Campos de golfe com consumos excessivos e regadios sem autorização devem sofrer cortes de água em caso de restrições ao consumo na agricultura, alertou o presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve.
Em declarações à Lusa, o presidente da associação que gere o perímetro de rega do sotavento algarvio, Macário Correia, advertiu que em causa estão seis campos de golfe que consomem mais do que o requerido e cerca de 200 hectares de regadio fora do perímetro de rega, mas que usam água sem autorização.
"Temos duas situações críticas, uma são campos de golfe que utilizam - em anos anteriores - o dobro do que requerem, e temos uma área de algumas centenas de hectares de regadio agrícola fora do perímetro sem autorização", assinalou o antigo presidente das Câmaras de Tavira e Faro.
A associação de regantes tem "preocupações graves com a situação", porque o consumo de água nesta campanha está cerca de 20% acima de igual período do ano anterior e as barragens de Odeleite e Beliche têm um nível de armazenamento inferior ao ano passado. Macário Correia frisou inclusive que a associação já comunicou por escrito, quer aos campos de golfe, quer aos agricultores que estão em áreas não autorizadas a utilizar água, que, perante a situação de restrições que podem vir a ser tomadas a curto prazo, eles terão "de contar com isso".
O dirigente da associação considerou que a situação "é delicada" e garantiu que vai ainda falar com os gerentes dos campos de golfe, porque "é muito complicado" haver casos que requereram 300 metros cúbicos de água e utilizaram 600 e que “neste momento já utilizaram 60% da dotação que requerem para o ano”.
Há também, no mínimo, 200 hectares de regadios agrícolas, fora do perímetro de rega, que vão buscar água dentro do perímetro, mas regam fora, sem autorização.
“A água que existe nas albufeiras, em primeiro lugar, é para beber, é para o ciclo urbano, depois é para a agricultura e, dentro da agricultura, se não houver para todos, temos de cortar em algum lado”.
Sotavento algarvio é uma das zonas do Algarve mais afetadas pela seca
O sotavento algarvio é uma das zonas do Algarve mais afetadas pela seca e as situações apontadas por Macário Correia são “críticas”, por isso, para a associação, deverão ser as primeiras a sofrer cortes caso as autoridades imponham restrições ao consumo de água na agricultura nessa zona do distrito de Faro.
Macário Correia indicou que está a aguardar uma reunião com a Agência Portuguesa do Ambiente e outra, com a comissão dedicada à seca, para perceber se terão de ser adotadas medidas restritivas.
“Estamos à espera dessas reuniões com as entidades oficiais para definir se há cortes e, se houver cortes, temos de cortar naqueles que estão do lado de fora ou a usar indevidamente e em excesso”.
O presidente referiu ainda que a associação rega cerca de 3.000 prédios, numa área de cerca de 6.000 hectares, e deixou um convite a todos os beneficiários para participarem na Assembleia Geral de 15 de junho, que está marcada para as 18:00, na sede da associação, em Tavira.
“São esses que são convidados a participar numa reunião no mês que vem, porque em caso de restrições, que seguramente vão ter lugar, temos de definir isso e todos têm de participar nessa decisão”.
Macário Correia observou que há zonas do perímetro que estão infraestruturadas, mas não estão a ser utilizadas, porque os "proprietários não estão ou não decidiram regar", e depois há o "caso inverso de pessoas que estão a fazer investimentos fora do perímetro do regadio e sem autorização para utilização dessa água".
Estas situações "não têm enquadramento nas normas aplicáveis" e "não é matéria que se possa deixar andar sem intervenção, num ano de escassez, à margem das regras", concluiu.